Especial Novembro Negro
Políticas afirmativas enegrecem Instituto Federal do Ceará
Lei de Cotas e heteroidentificação aumentaram número de estudantes negros
Publicada por Andressa Sanches em 18/11/2025 ― Atualizada em 18 de Novembro de 2025 às 14:04
Segundo a Plataforma Nilo Peçanha, ambiente virtual de coleta, validação e disseminação das estatísticas oficiais da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Rede Federal), 59,95% dos estudantes matriculados em 2024 no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) são negros, sendo 53,27% pardos e 6,68% pretos. O ingresso de estudantes negros no IFCE vem aumentando desde 2017, quando foram registrados 44,71% pardos e 4,33% pretos, totalizando 45,04% estudantes negros.

Se as ações no território são a base da mobilização, os dados são a espinha dorsal da formulação de políticas. Em 2023, a professora Cristiane Sousa da Silva, chefe do Departamento de Extensão Social e Cultural, vinculado à Pró-Reitoria de Extensão, e uma equipe de servidores lançaram o Observatório de Cotas do IFCE, uma ferramenta pioneira no país. “Hoje temos 166 mil matrículas analisadas. Isso nos permite enxergar quem são os sujeitos de direito das políticas afirmativas e como está sua trajetória dentro da instituição”, afirma.
Observatório de Cotas: dados que viram política
Observatório de Cotas do IFCE
Desenvolvido pelo Laboratório de Redes de Computadores e Sistemas (LAR), em conjunto com a Pró-Reitoria de Extensão, o Observatório de Cotas do IFCE nasceu com o objetivo de contribuir para o enfrentamento das desigualdades sociais e raciais no IFCE. Atualizado no dia 29 de julho de 2025, do total de 166 mil matrículas analisadas desde 2012, o observatório contabiliza que 39 mil estudantes (23,6%) foram contemplados pela Lei nº 12.711 (Lei de Cotas), dos quais 4.245 pretos (10,83%) e 23.313 pardos (67,14%). No acesso, a maioria dos ingressantes é do sexo masculino (53,04%). Porém, na saída com êxito (certificação, formatura e colação de grau) a maioria é do sexo feminino (53,25%).
Parte do crescimento do ingresso de estudantes negros deve-se ao início das ações de heteroidentificação, definidas pelo Regulamento nº 87, de 7 de outubro de 2019, que implantou no IFCE o sistema de aferição para ingresso de estudantes por meio das cotas raciais. Antes disso, valia a autodeclaração sem checagem e somavam-se denúncias de falsidade ideológica Brasil afora. Note-se que a conferência do fenótipo dos ingressantes é resultado de uma luta coletiva nacional, sendo encampada localmente de forma decisiva pelos integrantes dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas do IFCE (NEABIs).

O Observatório ganhou destaque ao ser apresentado na Reunião Anual dos Dirigentes das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Reditec) de 2025, ficando em segundo lugar na categoria Gestão de Pessoas. “Sem dados, não há política pública sólida. O observatório permite pensar estratégias para garantir não só o acesso, mas a permanência e o êxito dos estudantes cotistas”, pontua. Essas informações já embasam pesquisas acadêmicas e trabalhos de conclusão de curso, inclusive na área de computação, e devem futuramente se integrar à Plataforma Nilo Peçanha, ampliando seu alcance para toda a rede federal.
Reportagem: Cláudia Monteiro (agencia@ifce.edu.br)
Infográfico: Elias Figueiroa
Fotos: Comunicação Reditec 2025
Fonte: Cristiane Sousa (cristiane.silva@ifce.edu.br)
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