Especial Novembro Negro
NEABIs promovem vínculo comunitário e pertencimento
Núcleos desenvolvem projetos de pesquisa e extensão nas comunidades em que estão inseridos em 31 municípios
Publicada por Andressa Sanches em 18/11/2025 ― Atualizada em 18 de Novembro de 2025 às 14:05
A expansão dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABIs) acompanhou o fortalecimento das políticas afirmativas no IFCE. Segundo a professora Cristiane Sousa da Silva, chefe do Departamento de Extensão Social e Cultural, vinculado à Pró-Reitoria de Extensão, a interiorização dos núcleos rompeu estigmas históricos: “Por muito tempo se repetiu a frase ‘no Ceará não tem negro’. Hoje, mostramos que temos territórios quilombolas, indígenas, povos de terreiro e estudantes negros que precisam e merecem ser ouvidos.”

No interior, as ações dos NEABIs são marcadas por extensão e vínculo comunitário. A professora Iziane Silvestre Nobre, do campus de Iguatu, coordena três projetos de extensão, com foco em comunidades tradicionais. O “Negrovivência” promove oficinas de educação antirracista com alunos de escolas municipais e estaduais. Outro projeto acompanha a comunidade Sítio Estrela, em Solonópole, onde uma família descendente de trabalhadores rurais mantém tradições como o maneiro-pau, a festa dos caretas e a dança do coco. “Recentemente submetemos um edital para o reconhecimento da Dona Lurdes como mestre da cultura. É um passo importante para valorizar essa memória viva”, detalha. O terceiro projeto atua na comunidade do Gaspar, distrito de Quixelô, que reúne 14 comunidades rurais com registros históricos da presença indígena kixelo-kariri.
Segundo Iziane, o objetivo dos projetos é maior do que promover oficinas antirracistas em escolas, buscar reconhecimento oficial para a comunidade quilombola Sítio Estrela, de Solonópole ou resgatar a história indígena Kixelo-Kariri no distrito do Gaspar, em Quixelô. “O nosso trabalho no NEABI não é só levar conhecimento técnico. É escuta, reconhecimento, valorização da memória e da cultura dessas comunidades”, resume.
Os NEABIs têm como objetivo principal promover e desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão focadas em identidades e relações étnico-raciais, valorizar a história e cultura dos povos africanos, afro-brasileiros e indígenas, combater o racismo e a discriminação por meio de ações de conscientização e formação, além de colaborar com a implementação de ações afirmativas dentro e fora dos campi.
IFCE nas comunidades quilombolas
Um dos exemplos mais emblemáticos do impacto da rede vem do campus Quixadá. Em 2018, o projeto “Vai ter negro no IFCE, sim senhor!”, coordenado pela professora Danielle Rodrigues, levou aulas preparatórias para o ENEM à comunidade quilombola Sítio Veiga. O resultado foi concreto: dos 18 jovens participantes, seis foram aprovados na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) — Bruna Ribeiro da Silva (Humanidades), Michael Eugênio Guerra Alencar (Agronomia), Francisco Otávio Eugênio da Silva (Humanidades), Carlos André da Silva (Enfermagem), Antônio Rafael dos Santos Nascimento (História) e Rian da Silva Marciel (Enfermagem).
“Foi emocionante ver esses estudantes conquistarem o acesso à universidade. Eles não precisaram sair de sua comunidade para sonhar grande”, afirma Danielle, doutora em Geografia e coordenadora do núcleo no campus Quixadá. Ela pontua que o papel do NEABI foi servir de ponte entre o sonho e a realização.
Nosso objetivo era preparar os estudantes quilombolas para os processos seletivos, garantindo que eles tivessem acesso igualitário à educação pública de qualidade. Educação de qualidade precisa chegar onde historicamente foi negada
Autodeclaração racial
Maria de Jesus do Nascimento, coordenadora de Assuntos Estudantis e vice-coordenadora do NEABI do campus Tianguá, é uma das servidoras que dão vida ao movimento de interiorização das pautas étnico-raciais no IFCE. Integrante da Comissão de Heteroidentificação, ela promove um projeto junto às escolas da região para explicar o processo de aferição da autodeclaração racial. “O que começou como atividade de divulgação dos cursos transformou-se num projeto de extensão permanente. Muitos candidatos não sabiam que haviam feito inscrição como cotistas ou que precisavam passar pela banca. Então fomos às escolas falar sobre isso — e não apenas sobre cotas, mas sobre pertencimento”. A ação, que começou de forma pontual, virou projeto de extensão em 2023 e é coordenada por ela desde 2024. “Como resultado dessa ação, as escolas passaram a nos chamar mais vezes e o número de indeferimentos reduziu”, comemorou.
Reportagem: Cláudia Monteiro (agencia@ifce.edu.br)
Fotos: Arquivo pessoal
Fontes: Danielle Rodrigues (danielle.rodrigues@ifce.edu.br), Iziane Silvestre (iziane.silvestre@ifce.edu.br), Maria de Jesus do Nascimento (jesus.nascimento@ifce.edu.br)
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