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Especial Dia do Professor

O impacto dos programas de iniciação à docência na formação de professores

Como iniciativas como Pibid, PRP e o recém criado Pé-de-Meia das Licenciaturas influenciam a carreira docente?

Publicada por Andressa Sanches em 09/10/2025 Atualizada em 9 de Outubro de 2025 às 17:22

Desde a criação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) em 2007, o Instituto Federal do Ceará (IFCE) participa ativamente da política de formação docente. Atualmente, o Pibid contempla 576 licenciandos, 72 supervisores e 24 coordenadores de área, com um investimento de R$12,8 milhões no IFCE.

Para o coordenador institucional, professor Andreyson Calixto, o programa tornou-se um espaço privilegiado de construção da identidade docente. “O Pibid fortalece a tríade ensino, pesquisa e extensão. Na prática, os alunos aprendem a planejar, a gerir turmas e a compreender a realidade da educação básica, chegando ao mercado de trabalho mais críticos, reflexivos e autônomos”, afirma.

Formação de professores - Encontro Pibid
Formação de professores - Encontro Pibid

Andreyson aponta que o programa vai além dos números. “Mais do que estatísticas, o Pibid forma professores mais autônomos, críticos e comprometidos com a transformação social. Os egressos saem com maior segurança no planejamento, na gestão da sala de aula e na compreensão da realidade educacional.”

Em março de 2024, o VII Encontro do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) reuniu 450 participantes de diversas regiões do Ceará no campus de Paracuru em torno do tema "Sabido ‒ Saberes e Aprendizagens Docentes". Um dos estudantes que participaram da organização, Rodrigor Emanuel Souza Araújo, 22 anos, do curso de Ciências Biológicas em Paracuru, exaltou a experiência do Pibid na sua formação profissional e pessoal. “Foi tão rica que me ensinou a importância de me adaptar ao ambiente escolar e compreender as diferentes realidades dos educandos”.

Rodrigor em atuação na escola
Rodrigor em atuação na escola

Ele atuou na E.M.E.I.F Francisco Paz de Oliveira, no distrito de Carnaúba, em Paracuru, e contabilizou os ganhos do programa na qualidade do ensino. “Quando saímos da escola, muitos dos alunos já tinham mais desenvoltura na leitura e escrita e um grande interesse em continuarem seus estudos até o ensino superior”, comemorou.

Na época, a estudante Adriana Gomes Mota, 51 anos, apresentou o trabalho “Estratégias pedagógicas para a inclusão de estudantes com necessidades especiais no ensino de ciências”, nascido das vivências que teve como bolsista de Biologia na Escola Porfírio de Araújo, no distrito de Croatá, em São Gonçalo do Amarante.

Formação de professores - Encontro Pibid
Formação de professores - Encontro Pibid

“O impacto do Pibid na vida dos estudantes com necessidades especiais é muito positivo, principalmente na participação e interação, nas atividades coletivas, nas equipes e nas dinâmicas desenvolvidas”, explicou. Além disso, “mudou minha visão em relação aos desafios da profissão e tomada de decisões”.

Atuando na mesma escola que Adriana, Patrícia Cavalcante Dias, 29 anos, aplicou um quiz de Ciências sobre as formas de contato e prevenção da meningite com alunos do Fundamental II. “Minha didática foi baseada na gamificação, pois acredito ser a forma mais eficiente para os alunos aprenderem brincando”, explicou. Ela também avaliou sua participação como de “grande importância e impacto”, pois a fez “pensar fora da bolha ao realizar as atividades”.

Residência Pedagógica: legado e lacuna

Se o Pibid permanece há quase 20 anos como programa estruturante, o mesmo não pode ser dito do Programa de Residência Pedagógica (PRP), criado em 2018 e descontinuado em 2024 pela Capes. Para a professora Maria de Lourdes da Silva Neta, que foi gestora do programa no IFCE, trata-se de uma perda significativa.

“Na última edição, ficou claro o que a Capes queria com a Residência Pedagógica. Foi gratificante e muito formativo. A descontinuidade foi problemática porque deixou uma lacuna: o Pibid sozinho não tem condição de atender toda a demanda dos 53 cursos do IFCE nem das escolas públicas do Ceará”, avalia.

Ela relembra que o IFCE participou de todas as edições do PRP: em 2018, com 22 cursos; em 2020, mesmo no contexto da pandemia, com 14 núcleos; e em 2022, com atendimento ampliado para todos os estudantes, por 10 meses. “Muitos egressos se destacaram. Hoje temos residentes aprovados em concursos, atuando na educação básica, ingressando em mestrados e concluindo pós-graduação”, comemora.

Residentes do Programa Residência Pedagógica em Canindé (2018)
Residentes do Programa Residência Pedagógica em Canindé (2018)

Entre os diferenciais dos residentes, Maria de Lourdes destaca a vivência prática intensa: ambientação, planejamento, regência supervisionada, avaliação e até equiparação ao estágio curricular supervisionado. “O residente vivenciava a profissão desde a formação inicial, o que deu maturidade e pertencimento aos futuros professores”, afirma.

A professora Cristiane Borges, pró-reitora de Ensino do IFCE, também destaca que os licenciados da instituição são rapidamente absorvidos pela rede pública, sobretudo nas áreas de maior carência. “Um dos sinais sobre a efetividade de programas como o Residência Pedagógica e Pibid tem sido observado na própria absorção dos egressos dos programas nas escolas de educação básica".

Em diversas oportunidades quando chegamos nas escolas encontramos nossos egressos já atuando em sala de aula e vinculados ao Pibid, agora na função de professores orientadores. Isso também revela a qualidade da formação que entregamos à sociedade

Professora Cristiane Borges, pró-reitora de Ensino do IFCE

Enquanto existiu, o PRP aprofundou a inserção dos futuros professores nas escolas, ao lado de docentes experientes. Nesse sentido, Andreyson reforça a necessidade de superar a lógica fragmentada. “Temos hoje iniciativas isoladas ‒ Pibid e Pé-de-Meia ‒, mas não um sistema articulado de formação. É urgente pensar em políticas contínuas que garantam indução, permanência e valorização docente ao longo da carreira”, opina.

Primeiras impressões do Pé-de-Meia das Licenciaturas

Criado em janeiro de 2025, o Pé-de-Meia das Licenciaturas ainda está em fase inicial, mas já apresenta alguns impactos. Cristiane Borges informou que em 2025 houve um aumento de 273% na procura pelas licenciaturas do IFCE em relação a 2024, com 303 alunos beneficiados.

O professor Leandro Sousa, coordenador da licenciatura em Educação Física do campus Canindé e líder do Núcleo de Investigação em Avaliação Educacional (Niave), alerta que ainda é cedo para avaliar o programa. “No meu campus, apenas quatro ou cinco estudantes entre 35 ingressantes atingiram a nota mínima no Enem para receber a bolsa. Programas de auxílio financeiro são fundamentais, mas eu destacaria o Pibid como ainda mais interessante, porque alia suporte econômico à inserção prática na escola”, avalia.

Avaliação, evasão e desafios da carreira

Na avaliação institucional, os cursos de licenciatura do IFCE obtêm, em sua maioria, notas 3 e 4 no Enade, com expectativa de novos resultados em 2024. Mas o professor Andreyson Calixto propõe ampliar os indicadores. “Não basta medir desempenho em provas. Precisamos acompanhar nossos egressos: onde estão, como se inseriram nas redes, de que forma contribuem para a qualidade da educação básica. Esse olhar fecha o ciclo da formação”, avalia.

Ainda assim, persistem desafios significativos. Em 2024, a taxa de evasão nas licenciaturas do IFCE foi de 17,23%, um dado que pressiona pela ampliação de políticas de permanência. A precarização da carreira, com contratos temporários e remuneração insuficiente, também preocupa. “Se não houver valorização consistente, corremos o risco de ter vagas abertas sem profissionais interessados, principalmente nas áreas de Ciências Exatas”, alerta Andreyson.

Reportagem: Cláudia Monteiro (agencia@ifce.edu.br)

Fotos: Filiphe Sá e Ítalo Costa

Fontes: Andreyson Calixto (andreysoncalixto@ifce.edu.br), Cristiane Borges (cristianeborges@ifce.edu.br), Leandro Sousa (leandro.sousa@ifce.edu.br), Lourdes Neta (lourdes.neta@ifce.edu.br)

Palavras-chave:
Educação Ensino Formação de professores Iniciação à docência Licenciaturas Pibid

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