Segundo o Censo da Educação Superior 2024 recentemente divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), pela primeira vez na história da educação do país, o número de matrículas em cursos de graduação a distância (EaD) ultrapassou o de cursos presenciais. Embora majoritariamente ofertados no ensino privado, as instituições públicas apresentaram um aumento de 14% nas ofertas de vagas em cursos a distância, entre os anos de 2018 e 2024.

O Centro de Referência em Educação a Distância (CREaD) coordena o sistema da Universidade Aberta do Brasil (UAB) no IFCE, ofertando cursos técnicos, de graduação e pós-graduação na modalidade a distância (EaD). A licenciatura em Matemática da UAB-IFCE é um curso semipresencial com aulas síncronas (ao vivo) e sistema de tutoria presencial que já formou 913 professores ao longo de 18 anos de funcionamento na instituição. Atualmente, são 459 estudantes matriculados no curso, distribuídos nos oito polos de apoio, onde ocorrem os encontros presenciais para atividades práticas e provas.

Um dos egressos do curso é o professor Kevin Cristian Paulino Freires, 23 anos, que solicitou graduação antecipada para poder cursar Mestrado em Educação pela Universidade Europeia do Atlântico e retornou ao IFCE como tutor presencial da disciplina de Teoria dos Números no polo Itapipoca-CE, vinculado ao campus Juazeiro do Norte.

“Posso afirmar que o IFCE, bem como o corpo docente, tutores de polos, coordenadores, secretários e demais membros do polo e/ou vinculados a instituição foram de extrema relevância para a minha permanência e continuidade no curso.

Atualmente Kevin mora em Santa Teresa, Espírito Santo, onde é servidor público e atua como Professor-Formador de Matemática e do Projeto Próximos Passos pela Secretaria Municipal de Educação local. Ele também é pesquisador nos grupos de estudos e pesquisa vinculados ao CNPq: GEPEMAC/IFCE, GEHEPB/UNILAB/UECE, NUPET/UECE e HIDROSED/UFC. Além de ser revisor, avaliador e membro técnico e de conselho editorial de algumas revistas científicas e editoras, bem como membro da Olimpíada de Matemática do Instituto Federal do Ceará (IFCE).

EaD, diretrizes e novos marcos regulatórios

Em julho de 2025, o Ministério da Educação (MEC) publicou um novo marco regulatório que restringe as licenciaturas 100% online, priorizando modelos presenciais e semipresenciais. A pró-reitora de Ensino do IFCE, professora Cristiane Borges, apoia a decisão. “A prática docente exige contato direto com escolas, estágios supervisionados e experiências coletivas que não podem ser substituídas por plataformas digitais. O semipresencial, quando bem estruturado, pode ser uma alternativa qualificada, mas o 100% EaD fragiliza a formação.”

Na mesma linha, o diretor do CREaD, professor Igor Paim, ressalta que o IFCE vem priorizando experiências híbridas, com foco em qualidade. “Nossos cursos sempre foram semipresenciais, com atividades síncronas e práticas presenciais nos polos, garantindo estágios supervisionados e acompanhamento próximo de professores e tutores. Cursos baseados apenas em vídeo aulas assíncronas, ou seja, gravadas, não são suficientes para formar futuros docentes.”

Além disso, a atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores (DCN 04/2024) trouxe novos parâmetros, que deverão ser implementados a partir de 2026. O IFCE já se organiza, com a criação de uma Coordenadoria das Licenciaturas e de um Comitê de Formação Docente com representantes de todas as áreas para atualizar os Projetos Pedagógicos de Curso (PPCs).

Igor detalha a regulamentação. “Cursos superiores presenciais podem ter até 30% da carga horária EaD, enquanto cursos semipresenciais podem ter até 70% a distância, sendo 20% síncronas. Já cursos EaD agora podem ter 90% a distância, também com 20% de aulas síncronas. Mesmo assim, a vivência prática e a interação constante são essenciais para a formação docente.”

Inclusão e tecnologia assistiva

Outro campo em expansão no IFCE é o das tecnologias educacionais, especialmente o uso ético da Inteligência Artificial. O professor Gerson Lima Verde, do CREaD, explica que o IFCE está em processo de construção de diretrizes institucionais. “Não existe ainda uma normativa nacional específica, mas o IFCE já promove cursos como o Educatech e orientações sobre o uso da Inteligência Artificial como apoio, e não como substituto do professor. O foco é preparar os licenciandos para uma prática crítica e responsável”, explica.

Sobre isso, o professor Igor Paim reforça a importância do uso ético e pedagógico da Inteligência Artificial (IA). “Promovemos oficinas e capacitações para que docentes compreendam as potencialidades e limites da IA. As aplicações incluem personalização do ensino, produção de materiais, apoio em avaliações e suporte à rotina docente”, informa.

Para Igor Paim, a aplicação da IA e outras tecnologias educacionais em sala de aula ganharam um impulso importante após a recente adesão do IFCE ao Mestrado Profissional em Educação Inclusiva em Rede Nacional (Profei), programa de pós-graduação concebido para a modalidade semipresencial, com ensino híbrido. “Trata-se de uma cooperação acadêmica em rede, na qual o IFCE integra um consórcio nacional de instituições que compartilham gestão, docentes e infraestrutura”, explica.

O Profei tem oferta simultânea nacional e disciplinas online, com atividades síncronas ou assíncronas pré-agendadas pelos docentes responsáveis. Ofertado nacionalmente pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no IFCE é vinculado ao campus Paracuru, por meio do CREaD. O programa tem linhas de pesquisa voltadas à inovação pedagógica e ao desenvolvimento de tecnologias assistivas.

“Esses recursos são fundamentais para garantir acessibilidade e inclusão, pois permitem romper barreiras de comunicação, mobilidade e aprendizagem", aponta o professor Igor Paim. Dentre as tecnologias assistivas utilizadas pelo CREaD, estão softwares leitores de tela, tradução em Libras, comunicação alternativa, ambientes virtuais acessíveis e, mais recentemente, aplicações de inteligência artificial e realidade aumentada voltadas para a personalização do ensino.

Os desafios, porém, permanecem. É claro que ainda existem desafios. Muitos desses recursos têm custo elevado ou exigem infraestrutura tecnológica específica. Além disso, a efetividade da tecnologia depende de formação docente para aplicá-la de forma pedagógica. Também é importante destacar que não há solução única que atenda a todos: estudantes com deficiência e estudantes com altas habilidades possuem demandas muito distintas", explica.

Reportagem: Cláudia Monteiro (agencia@ifce.edu.br)

Fotos: Arquivo IFCE

Fontes: Cristiane Borges (cristianeborges@ifce.edu.br), Igor Paim (igormoraes@ifce.edu.br)