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Sustentabilidade

IFCE desenvolve lubrificantes e aditivos sustentáveis para biocombustíveis

Soluções utilizam matérias-primas encontradas na região Nordeste, como rejeitos de crustáceos e óleo do Batiputá

Publicada por Andressa Sanches em 09/12/2025 Atualizada em 9 de Dezembro de 2025 às 17:26

Unindo o cuidado com o meio ambiente e o fortalecimento da economia regional, o campus Caucaia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) vem desenvolvendo pesquisas em busca de soluções sustentáveis para melhoramento de biocombustíveis. Estudos liderados pelo professor Eduardo Arruda, da área de Química, desenvolveram biolubrificantes e bioaditivos a partir de matérias-primas encontradas na região Nordeste.

Em uma das iniciativas, a utilização de rejeitos de crustáceos foi investigada como uma alternativa mais barata, acessível e menos agressiva ao meio ambiente para o desenvolvimento de aditivos antioxidantes e anticorrosivos que aumentem o tempo de prateleira do biodiesel.

O estudo resultou da dissertação de mestrado da técnica de laboratório do campus Caucaia, Emanuelle Herculano, orientada pelo professor Eduardo. “A pesquisa desenvolve uma alternativa sustentável de bioaditivo, que visa melhorar características como índice de oxidação e estabilidade térmica do biodiesel, e o aproveitamento de um material orgânico que iria para o lixo, como os rejeitos de camarão”, explica ela.

O professor Eduardo ressalta que a região Nordeste se destaca na produção de camarão. “Desta forma, surgiu a ideia de extrair substâncias da casca do camarão que tivessem atividade anticorrosiva e antioxidante”, explica o docente.

O processo de beneficiamento dos crustáceos gera três subprodutos: o cefalotórax, a casca e a cauda, no qual o cefalotórax representa cerca de 30% a 40% da matéria prima. “Muitas vezes esses produtos são descartados de forma inadequada, se tornando lixo orgânico e promovendo impactos ambientais. Em algumas localidades as cascas do camarão são queimadas, lançadas para o apodrecimento em terras secas ou até mesmo despejadas de volta ao mar”, afirma o professor. O uso desses materiais como fonte de material anticorrosivo, algo já utilizado em outros processos industriais, como indústrias de aquicultura, avícola, nutracêutica e farmacêutica, traz benefícios ambientais.

Processo de obtenção do extrato hexânico das cascas de camarão
Processo de obtenção do extrato hexânico das cascas de camarão

Biolubrificantes a partir do óleo de batiputá

Em outra pesquisa desenvolvida pelo professor Eduardo Arruda e equipe, o óleo de Ouratea fieldingiana (Gardner) Engl., conhecida popularmente no Nordeste como Batiputá, foi a matéria-prima usada para a confecção de biolubrificantes. “O óleo do Batiputá foi escolhido por ser abundante em grande parte da região Nordeste, em suma, no Ceará e no Rio Grande do Norte, apresentou características próximas do óleo de soja, que é o mais utilizado na síntese do biodiesel”, explica o docente.

Segundo ele, os biolubrificantes são materiais renováveis que se destacam como fonte de energia limpa. Sua produção representa um avanço na área de produtos ecológicos, principalmente em locais onde sua aplicação apresenta um maior risco de contaminação ambiental, como por exemplo: atividades agrícolas, marinhas e maquinários da indústria alimentícia.

Extração do óleo de batiputá
Extração do óleo de batiputá

As pesquisas são realizadas por uma equipe que abrange docentes, técnicos administrativos, estudantes de graduação e egressos do campus, atualmente na pós-graduação. “Os estudantes passam a enxergar que o mundo acadêmico vai além das disciplinas e da rotina da graduação. Como resultado desses dois projetos temos dois ex-alunos que, hoje, são mestrandos na pós-graduação da Universidade Federal do Ceará (UFC)”, destaca o professor.   

Biolubrificantes e bioaditivos
Biolubrificantes e bioaditivos

O egresso Flarysson Elias de Oliveira Almeida, mestrando em Química Orgânica na UFC, ressalta que a participação nas pesquisas contribuiu para que ele desenvolvesse um olhar mais científico e crítico. “Posso afirmar que o objetivo do IFCE de formar cidadãos críticos e éticos foi alcançado. Nas perspectivas futuras, pretendo aprimorar essas pesquisas e quem sabe, produzir algum produto que vá para o mercado”, afirma.

Essas pesquisas também apresentam potencial para transferência tecnológica. “Já apresentamos trabalhos nos congressos da Sociedade Brasileira de Química, em 2023 e 2024. Os artigos estão em conclusão para submissão em revista científica”, diz o professor Eduardo.

O egresso Leonardo Moreno, também mestrando, reforça que o reaproveitamento de resíduos do camarão para extrato de compostos bioativos representa um avanço para a tecnologia no uso de biomassa e redestinação de resíduos. “A pesquisa é destinada inicialmente ao eixo de qualidade de combustíveis, os extratos obtidos desses resíduos apresentam potencial de aplicação em diversos nichos industriais e tecnológicos. O trabalho possibilitou explorar diferentes usos desses extratos e vislumbrar inovações para o mercado.”

Reportagem: Renata Jaguaribe (agencia@ifce.edu.br)

Fontes: Professor Eduardo Arruda (francisco.eduardo@ifce.edu.br), Emanuelle Herculano (emanuelle.priscilla@ifce.edu.br)

Palavras-chave:
Biocombustíveis Pesquisa Sustentabilidade

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