Especial Jovens Olímpicos
A olimpíada me levou longe
Experiências em torneios científicos ajudam estudantes do IFCE a terem oportunidades de estudos no Brasil e mundo afora
Publicada por Andressa Sanches em 11/08/2025 ― Atualizada em 11 de Agosto de 2025 às 10:08
O sistema educacional brasileiro conta com dezenas de competições de conhecimentos nas mais diversas áreas, que são conhecidas como Olimpíadas Científicas. Funcionam como uma importante via de promover, testar e premiar os jovens brasileiros pelos estudos, pesquisas e conhecimentos em determinadas áreas. Mas a expansão dos horizontes alcançados pelos estudantes em suas vidas pessoais extrapola os objetivos institucionais de cada certame.
José Antônio Eleutério, 21 anos, fez sua primeira viagem internacional para participar do 36th International Young Physicists' Tournament (Torneio Internacional de Jovens Físicos), realizado em julho de 2023, em Murree, no Paquistão. À época, ele cursava o último ano do curso técnico integrado em Eletrotécnica no campus de Juazeiro do Norte, tendo sido o único integrante de escola pública do Time Brasil e onde conquistou a medalha de prata.

No IFCE, José Antônio aproveitou ao máximo as oportunidades oferecidas. Foi bolsista do CNPq durante o ano de 2021, ao fazer parte de um projeto de extensão em Astronomia e Instrumentação Astronômica. Participou e foi premiado diversas vezes em competições científicas. Na Olimpíada Brasileira de Física das Escolas Públicas (OBFEP) ganhou a medalha de prata em 2021 e 2022, quando, neste último ano, fez parte do time responsável pelo desenvolvimento do primeiro satélite, desenvolvido por estudantes cearenses e lançado à estratosfera pela Agência Espacial Brasileira. O estudante foi também premiado na 1ª Olimpíada Brasileira de Satélites promovida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Após o Ensino Médio, José Antônio iniciou em 2024 a dupla graduação em Física e Engenharia Elétrica e da Computação, além de uma especialização em nanodispositivos e fotônica, na Rice University, no Texas (EUA). “A experiência em olimpíadas foi a parte principal que me fez conquistar essa aprovação. Rice está entre as universidades mais seletivas dos Estados Unidos e do mundo. A candidatura analisa o perfil do interessado como um todo, e principalmente o currículo. Os meus projetos e premiações em olimpíadas foram o principal componente para eu conseguir a aprovação e consequentemente a bolsa completa”, explica.
Atualmente, ele integra a equipe organizadora da Brazil Conference, a maior conferência estudantil nos Estados Unidos. “[Estou tendo] a oportunidade de trabalhar ao lado de pessoas muito talentosas como o Matheus Farias (MIT Innovators Under 35), e conhecer líderes de diversos setores do Brasil”, conta Eleutério. A experiência no exterior, iniciada em 2023, tem mudado radicalmente a vida dele.
Deixei de morar com meus pais no sul do Ceará para viver em um dormitório em Houston, uma das maiores metrópoles dos Estados Unidos. Conheci muitas pessoas novas de todas as partes do planeta, além de líderes pesquisadores na área da ciência que tenho interesse.
O poder da interdisciplinaridade
Essencialmente, as olimpíadas democratizam o conhecimento e elevam a qualidade da educação científica nas escolas, propiciando a descoberta dos modos de se fazer ciência. Os participantes realizam muitas atividades com o uso do conhecimento científico e são estimulados a se tornar agentes capazes de promover a atualização dos métodos e técnicas das áreas nas próprias escolas, revelando-se como talentos a serem orientados para carreiras técnico-científicas.
Jackson Albuquerque Luna Filho, 20 anos, é egresso do técnico integrado em Química do campus de Fortaleza, onde estudou de 2021 a 2023. Foi no último ano que sua equipe participou da 15ª Olimpíada Nacional de História do Brasil (ONHB), chegando à grande final, cuja prova é realizada presencialmente na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Orientado e acompanhado pelo professor de História e atual coordenador-geral de Olimpíadas do Conhecimento do IFCE, Zilfran Varela Fontenele, ele viajou para a cidade paulista com os dois integrantes da sua equipe, Arlenson Levi Laurindo Lima, do mesmo curso, e Kaique Bezerra Leite Brandão, do técnico integrado em Informática, além dos integrantes de mais duas equipes e dois docentes que compunham o Time IFCE. Na época, sua equipe Nova União Soviética ganhou menção honrosa.

Atualmente o jovem está cursando o primeiro ano do Bacharelado em Química na Unicamp, desejo que nasceu durante a experiência da ONHB. “O IFCE pôde me proporcionar vir para cá porque tudo foi custeado pelo IF. As passagens, a ida e a volta, a hospedagem, o transporte, tudo, tudo”, resume. O estudante considera a experiência de participar dessa olimpíada “fundamental” para a aprovação em dois cursos superiores - ele também cursou um ano de Bacharelado em Química na UFC em 2024, onde foi aluno de Iniciação Científica (CNPQ) no Laboratório de Análises de Traços (LAT) e ganhou o Prêmio de Melhor Pôster na XV Semana da Química e VIII Workshop da Pós-Graduação em Química.
Quando eu vim aqui em 2023, eu fiquei abismado. Achei muito interessante, principalmente pela infraestrutura de pesquisa que aqui tem. E quando eu vim descobrir que aqui tinha um acelerador de partículas, eu descobri diversas coisas que tinham aqui na Unicamp que eu não imaginava que nós teríamos acesso aqui no Brasil. Isso foi o que mais me impressionou. E a oportunidade de sair do meu estado, fazer uma viagem, conhecer uma nova cultura. E tudo em volta de um conhecimento em comum, que é a História, foi algo muito incrível pra mim. É uma olimpíada já bem consolidada aqui no Brasil, muito importante, que traz pessoas do interior do Ceará, aqui pra Campinas, pra São Paulo, e tem a oportunidade de viver isso, que é realmente algo muito, muito legal na minha concepção.
Jackson aponta a interdisciplinaridade das olimpíadas científicas como algo “extraordinário”. “Eu era do [curso] técnico de química, mas eu participei de uma olimpíada de história. Hoje em dia, quando você vai ver o desenvolvimento de uma rede de networking, é literalmente à base da interdisciplinaridade. São pessoas de áreas totalmente distintas que se juntam para poder resolver um problema, literalmente como a olimpíada de história é”, detalha. Para o futuro próximo, projeta fazer pós-graduação na própria Unicamp, pois pretende trabalhar como professor universitário. “Aqui tem a possibilidade de você fazer doutorado direto, algo incrível na minha concepção, e eu já iniciei minha carreira acadêmica dentro de laboratório de pesquisa”, planeja.
Crescimento pessoal
Ludmila de Oliveira Agra, 18 anos, é outra egressa do IFCE que escolheu estudar no interior paulista. Terminou o curso Técnico em Eletrotécnica no campus Juazeiro do Norte, em 2024, e atualmente está cursando Engenharia Ambiental na Escola de Engenharia de São Carlos Universidade de São Paulo (USP), onde realiza pesquisas sobre poluição atmosférica e participa de uma empresa júnior no setor da engenharia ambiental.
Também é campeã de participações em olimpíadas científicas e já começou ganhando medalha de ouro: em 2022 na Olimpíada Nacional de Ciências (ONC) e por três vezes seguidas (2022, 2023 e 2024) na Olimpíada Internacional Matemática Sem Fronteiras (MSF), criada em 1990 na França, competição destinada a estudantes do Ensino Fundamental e Médio.

Em 2023, a estudante ganhou medalha de prata no Torneio Internacional de Jovens Físicos (International Young Physicists Tournament - IYPT) e na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (FEBRACE), além do bronze na Competição Internacional de Astronomia (International Astronomy and Astrophysics Competition - IAAC). No ano passado ganhou menção honrosa na Genius Olympiad 2024 e o Prêmio ABRANGE MÚTUA 2024 - Maiores destaques na Engenharia Júnior.
A experiência com olimpíadas foi essencial para compreender o que eu gosto e quero fazer no mundo. Aprendi com as inúmeras pesquisas, viagens e pessoas, orientadores e amigos que estão comigo até hoje, a impactar de maneira positiva as pessoas e o meio em geral. Inclusive tive mais facilidade em determinar o que queria estudar na faculdade por conta dos projetos voltados ao meio ambiente que realizei por todo o meu Ensino Médio no IFCE, em especial o A2Database, a qual devo agradecer meu orientador Rodrigo Almeida e meus colegas Natanael Isidoro e Hugo, pois foi a partir dele que acendeu uma vontade de continuar no desenvolvimento de tecnologias voltadas ao meio ambiente.
No momento, Ludmila se adapta à nova vida. “Minha vida mudou drasticamente no sentido pessoal, tive que morar sozinha com o auxílio de unicamente uma bolsa. Está sendo uma experiência única e muito rica de conhecimentos e aprendizados, mas também muito complicada em outros sentidos como emocional e financeiro, contudo, nada é impossível e pretendo apenas seguir fazendo meu melhor, afinal estou fazendo o que mais amo que é pesquisar, estudar e transformar as coisas para melhor com o meu conhecimento.”
Para os próximos cinco anos, ela pretende finalizar o curso, fazer uma especialização nas áreas que gosta, produzir artigos e utilizar da estrutura que posso usufruir para colocar as ideias para fora do papel. “Quero acima de tudo continuar pesquisando, estudando e produzindo tecnologias, projetos e ideias para transformar o mundo à minha volta. Também quero entender mais meu lado pessoal e buscar amadurecer mais como ser humano, para assim conseguir construir um futuro tranquilo e bom para mim e, se possível, para a geração à frente”.
Reportagem: Cláudia Monteiro - Reitoria (agencia@ifce.edu.br)
Revisão de texto: Priscila Luz
Fotos: Acervo Pessoal
Fontes: Rodrigo Almeida (rodrigo.almeida@ifce.edu.br), professor fundador do Comitê Olímpico Institucional do campus Juazeiro do Norte
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