Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado do Ceará

Educação pública, gratuita e de qualidade em todas as regiões do estado

Geoparque Sertão Monumental

Projeto quer transformar o sertão cearense em destino de geoturismo

Com participação ativa das comunidades locais, o território de monólitos milenares e rica diversidade cultural busca reconhecimento como Geoparque

Publicada por Tiago Braga em 02/05/2025 Atualizada há 6 dias, 8 horas

Imagine um território onde formações rochosas monumentais contam histórias geológicas de milhões de anos, ao mesmo tempo em que comunidades tradicionais e sertanejas preservam tradições ancestrais. Esse é o cenário do Geoparque Sertão Monumental, um projeto que está redesenhando o mapa do desenvolvimento sustentável no interior do Ceará. Em fase de estruturação e fortalecimento territorial, o projeto é integrado por pesquisadores do campus de Quixadá do Instituto Federal do Ceará (IFCE) e abrange os municípios de Quixadá e Quixeramobim.

A iniciativa é inspirada no conceito de geoparques da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), que reconhece áreas com relevância geocientífica internacional e valoriza a preservação, a educação e o turismo responsável. A lista de Geoparques Mundiais da Unesco tem atualmente apenas seis brasileiros.

Vista do campo de inselbergs de Quixadá

O Geoparque Sertão Monumental avança para colocar o Sertão Central do Ceará no mapa mundial dos territórios que integram natureza, ciência, cultura e desenvolvimento sustentável com um um diferencial: nasce com protagonismo comunitário. É um projeto "de baixo para cima", construído por comunidades, pesquisadores e instituições locais, destaca a professora Caroline Loureiro, do curso de Geografia do campus de Quixadá do IFCE e uma das coordenadoras do Programa de Extensão Geoparque Sertão Monumental.

A professora explica que atualmente o grupo está trabalhando na fase de desenvolvimento do território e reconhecimento da proposta pelas comunidades. Mas o movimento começou há mais tempo, cerca de quatro anos atrás, e vem reunindo instituições locais, agentes culturais e moradores da região. O foco é construir um modelo de turismo sustentável, educativo e inclusivo, valorizando tanto a geodiversidade quanto o patrimônio imaterial do território, que reúne uma riqueza geomorfológica rara, incluindo formações rochosas milenares.

O sertão é monumental tanto na paisagem quanto na cultura. Queremos mostrar ao mundo que o sertão é também ciência, conhecimento, patrimônio e vida.

João Luís Olímpio, também coordenador do programa e professor do IFCE.

Geossítios

O projeto já identificou 20 geossítios e sítios da geodiversidade com potenciais turístico, educativo, cultural e científico, incluindo a icônica Pedra da Galinha Choca, a Gruta de São Francisco, e mirantes naturais com vista para o sertão infinito, mas muitos ainda são desconhecidos do grande público. Um dos objetivos do Geoparque é exatamente dar visibilidade a essas paisagens e criar infraestrutura para receber visitantes de forma segura e sustentável.

Mas, como destaca o professor e geógrafo João Luís Olímpio, uma das frentes prioritárias do projeto é o ordenamento do turismo. Em trilhas como a da Pedra da Galinha Choca, o número de visitantes já foi reduzido de 200 para 30 pessoas por grupo. “É um primeiro passo para o turismo sustentável. Agora precisamos avançar na sinalização e regulamentação”, explica. O objetivo é garantir que a visitação aos geossítios ocorra com mínimo impacto, gerando renda para a população local e promovendo educação ambiental e patrimonial.

Atualmente, o projeto conta também com a participação de dois quilombos certificados – Sítio Veiga (Quixadá) e Mearim (Quixeramobim) –, além de sete sítios com arte rupestre identificados, incluindo a Pedra do Letreiro. Outro destaque é a elaboração da Rota Turística Sertão Monumental, que visa organizar o fluxo de visitantes e fomentar a economia local. Além disso, foram mapeadas 23 trilhas na região.

Comunidade no centro

No sentido de partilhar com a comunidade do Sertão Central a construção do projeto, o IFCE realizou oficinas em escolas, conversas com moradores e ações educativas nos dois municípios para explicar o que é um geoparque e ouvir o que a população gostaria de preservar e divulgar. “Não queremos transformar o sertão em vitrine, mas em protagonista. A ideia é que as comunidades locais sejam guias, educadoras, empreendedoras desse processo”, afirma João Luís. Há ainda um diálogo constante com lideranças que já atuam na defesa do território. A proposta é articular o saber científico com os saberes tradicionais, valorizando a memória e a cultura locais.

Desafios e próximos passos

Entre as prioridades do projeto estão a regulamentação de trilhas (hoje sem controle de visitantes) e a sinalização dos geossítios. Além disso, o Geoparque busca fortalecer parcerias com instituições locais e promover ações educativas, como palestras em escolas e cursos de formação para guias turísticos.

Caminho até a Unesco

Para se tornar oficialmente um Geoparque Global da Unesco, o território precisa cumprir uma série de etapas: diagnóstico técnico, engajamento comunitário, criação de infraestrutura e elaboração de um dossiê detalhado. O IFCE atua na parte técnica e científica, juntamente com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), Geopark Araripe, Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN), Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente (CAOMACE/MPCE), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Secretaria de Cultura do Ceará (SECULT/IDM), Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Mudança do Clima (SEMA), Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Universidade Estadual do Ceará (FECLESC/UECE) e Universidade Federal do Ceará (UFC), e das prefeituras locais. O projeto também tem recebido apoio do Governo do Ceará.

Geoparque: o que é e por que importa?

O conceito de geoparque surgiu na Europa nos anos 2000 e ganhou força com o apoio da Unesco. Diferente de um parque ambiental tradicional, um geoparque valoriza a interação entre o meio físico e as comunidades humanas. O foco está na preservação do patrimônio geológico, mas de forma integrada com aspectos culturais, sociais e econômicos.

No Brasil, existem hoje seis Geoparques reconhecidos pela Unesco: Araripe (CE), Seridó (RN), Caminhos do Cânions do Sul (SC/RS), Quarta Colônia (RS), Caçapava do Sul (RS) e Uberaba (MG). O Sertão Monumental quer se juntar a essa lista, propondo um modelo que destaca a beleza do sertão como potencial educativo e turístico.

Infográfico Geoparque

Reportagem: Rebeca Cavalcante - campus Quixadá (agencia@ifce.edu.br)

Fotos: Caroline Loureiro

Infográfico: Ângelo dos Santos

Fontes: Caroline Loureiro (caroline.loureiro@ifce.edu.br) e João Luís Olímpio (joao.olimpio@ifce.edu.br), professores do campus Quixadá

Palavras-chave:
Quixadá Agência IFCE Geoparque Sertão Ceará Quixeramobim

Notícias relacionadas