Saúde pública
Pesquisa do IFCE mostra eficácia do extrato da graviola no combate às larvas do Aedes aegypti
Estudos desenvolvidos no campus de Acopiara apontam taxa de mortalidade superior à de inseticidas sintéticos convencionais
Publicada por Andressa Sanches em 09/09/2025 ― Atualizada em 9 de Setembro de 2025 às 16:21
O combate ao mosquito Aedes aegypti, vetor responsável por transmitir dengue, zika e chikungunya, pode ter encontrado um novo aliado. Estudos realizados no campus de Acopiara do Instituto Federal do Ceará (IFCE) apontam que o extrato da semente da graviola (Annona muricata) tem alto poder larvicida, chegando a eliminar 100% das larvas testadas em laboratório, mesmo em baixas concentrações.
A pesquisa é resultado de anos de trabalho e começou ainda no mestrado em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) do professor Alzeir Rodrigues, quando foi orientado por Víctor Emanuel Martins, pioneiro na identificação do Aedes albopictus no Ceará. Desde então, Alzeir tem investigado a aplicação de compostos naturais, como óleos essenciais e extratos vegetais de várias plantas, como alternativa ao uso de inseticidas químicos sintéticos, que causam impacto ambiental e podem eliminar organismos não-alvo.
“Como as plantas são ricas em compostos bioativos que são resultado do metabolismo secundário, essenciais para a sobrevivência dessas espécies, é de conhecimento que essas substâncias podem possuir diferentes atividades biológicas, dentre elas a atividade larvicida”, explica.

A partir de uma extensa revisão bibliográfica e de testes laboratoriais, Alzeir direcionou sua atenção para plantas da família Annonaceae, como a graviola, a ata e o biribá. As frutas, populares no Norte e no Nordeste brasileiros, se destacaram por apresentar grupos de moléculas altamente tóxicas para as larvas do Aedes aegypti, mesmo em baixas concentrações. “No caso da graviola, a gente observou que em concentrações muito pequenas, em torno de 50 partes por milhão (ppm), já era possível matar 100% das larvas em laboratório”, destaca o pesquisador.
Durante o doutorado em Biotecnologia pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), Alzeir conseguiu identificar a anonacina, molécula presente no extrato da graviola com potencial larvicida até 20 vezes maior que o de outros compostos já conhecidos, como o óleo essencial do cravo-da-índia. O estudo também envolveu análises bioquímicas para entender os mecanismos de ação do extrato e de suas substâncias isoladas. Foi observado que o mecanismo que levava à alta taxa de letalidade era a exposição às acetogeninas, grupo molecular presente no extrato da graviola, capazes de inibir enzimas essenciais ao metabolismo das larvas. As propriedades larvicidas presentes nas acetogeninas encontradas na fruta biribá renderam uma carta-patente a Alzeir, à sua orientadora de doutorado, professora Selene Maia, e à então estudante de iniciação científica em Química, Alice Araújo da Silva.
O extrato da graviola é obtido a partir de sementes descartadas por indústrias de polpa, o que torna o processo mais sustentável e de baixo custo. “É um resíduo que hoje não tem utilidade comercial, mas que concentra os principais componentes de ação larvicida”, destaca.
Aplicações práticas
O professor Alzeir Rodrigues tem dado continuidade a essa pesquisa através de projetos de iniciação científica e tecnológica com estudantes de graduação e ensino médio no IFCE. Paula Richelly dos Santos do Ó, da licenciatura em Ciências Biológicas do campus de Acopiara, foi bolsista dessa iniciativa de 2022 a 2024. De acordo com a estudante, os principais achados ao fim desse período de pesquisa foram “determinar quais frações do extrato se mostraram mais eficientes e as concentrações letais para 50% e 90% das larvas, relacionar o tempo de exposição com eficiência do larvicida e a influência do solvente utilizado na produção do extrato à eficácia do larvicida”.
Os testes dessa pesquisa foram conduzidos com cepas padrão de laboratório e com larvas coletadas em campo com apoio de agentes de endemias. Segundo o pesquisador Alzeir Rodrigues, os extratos mostraram efeito larvicida já nas primeiras seis horas de exposição, o que sugere sua aplicabilidade em ações de controle rápido em ambientes urbanos.

Atualmente, as pesquisas em andamento se debruçam sobre a atividade antioxidante e o potencial citotóxico do extrato. No ciclo 2024-2025 dos editais de iniciação científica e tecnológica do IFCE, o professor Alzeir orientou dois projetos sobre o tema:
- Caracterização química e atividade larvicida do óleo essencial de Croton heliotropiifolius Kunth (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica/Pibic Jr)
- Investigação do potencial biotecnológico do óleo essencial de Eucalyptus citriodora Hook por meio da caracterização química, do potencial antioxidante e citotóxico (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação/Pibiti).
Primeiros resultados de testes de toxicidade realizados com peixes indicaram baixa periculosidade para vertebrados, o que amplia o potencial de aplicação desses compostos em ambientes próximos às residências, desde que não envolvam consumo humano direto da água tratada.
Embora a maior parte dos ensaios ainda seja realizada em ambiente de laboratório, o pesquisador já vislumbra aplicações práticas, com testes em ambientes reais: caixas d’água, depósitos e quintais onde há focos recorrentes do mosquito. “A expectativa é que esses compostos possam ser utilizados pelos agentes de endemias em locais com focos recorrentes de larvas, sobretudo em áreas urbanas”, afirma o professor Alzeir Rodrigues.

Além disso, o pesquisador vislumbra novas possibilidades de estudos: investigar se o extrato afeta o desenvolvimento das larvas sem necessariamente matá-las (como inibição do crescimento), estudar efeitos em pupas e ovos, e explorar outras espécies vegetais, como o jambu e a condessa - esta última comum na região do Cariri cearense. Para o ciclo 2025-2026, o professor Alzeir dará continuidade aos estudos na mesma temática, dessa vez orientando as seguintes pesquisas:
- Avaliação in silico do potencial larvicida de acetogeninas isoladas de Annonaceae contra Aedes aegypti (bolsista Pibic Jr: Sylvia Letícia de Almeida Batista de Albuquerque)
- Potencial larvicida de nanopartículas de prata associadas ao extrato etanólico de sementes de Annona muricata contra Aedes aegypti (bolsista Pibiti: Ana Cristina André Félix)
- Síntese verde de nanopartículas de prata com óleo essencial de Eucalyptus citriodora Hook para o controle larval de Aedes aegypti: uma alternativa ecologicamente segura (bolsista Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica/Pibic: Maria Gizele de Franca Silva)
Reportagem: Andressa Souza - Reitoria (agencia@ifce.edu.br)
Fotos: Comunicação Social - campus Acopiara
Fontes: Professor Alzeir Rodrigues (alzeir.rodrigues@ifce.edu.br) - campus Acopiara
- Palavras-chave:
- Agência IFCE Pesquisa