Conjunto Palmeiras
IFCE participa da primeira usina comunitária de produção de energia solar no Conjunto Palmeiras
O equipamento já está pronto e na fase de homologação pela Enel, distribuidora de energia que atende o estado do Ceará
Publicada por Andressa Sanches em 16/06/2025 ― Atualizada há 1 dia, 16 horas
O Instituto Federal do Ceará (IFCE) participou da implantação da primeira usina comunitária brasileira de energia solar fotovoltaica. O projeto, batizado de PalmaSolar, foi inaugurado em abril de 2025 no Conjunto Palmeiras, bairro situado na periferia de Fortaleza. O campus de Maracanaú contribui em três frentes: orientação técnica para a implantação da usina, capacitações com foco na transição energética e cidadania e pesquisa sobre os impactos sociais e econômicos do modelo.
“O apoio técnico e tecnológico se deu no sentido de prestar informações, como qual seria o formato e modelo da usina, como juridicamente ela se apresentava, como seriam as documentações de adesão dos beneficiários a essa ação, entre outros aspectos”, detalha Venício Soares, professor do eixo de Indústria e representante do IFCE na ação.

Joaquim Melo, criador do banco comunitário Palmas e idealizador do Palma Solar, Eudásio Alves (Paju Solar); Venício Soares (professor do campus de Maracanaú do IFCE) e Erika Rocha (orientadora da pesquisa)
O próximo passo será a qualificação para os beneficiados. “Eles vão receber uma capacitação sobre a importância das ações coletivas, das organizações em território, o que é a transição energética, o que é a energia fotovoltaica e como eles podem se beneficiar melhor desse projeto. Entender a importância dele, inclusive sobre qual é a relevância de um projeto que reúne todas essas matrizes de possibilidades sociais na transição energética como um todo”, explica o professor.
Em um terceiro momento, o projeto também será objeto de investigação a ser desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Energias Renováveis (PPGER) do IFCE, com sede no campus de Maracanaú. A pesquisa irá estudar o modelo de usina comunitária e popular na economia local e como as famílias são impactadas.
“O estudo tem o objetivo de mapear os sucessos e os desafios que orientaram a criação do projeto PalmaSolar. Tem o objetivo também de colaborar com a formulação de estratégias para implementação de tecnologias limpas, visando a essa expansão futura do projeto. E, além disso, fortalecer ainda mais a autonomia da comunidade do bairro Conjunto Palmeiras”, enumera Daiane Farias Veras, mestranda do PPGER e responsável pela pesquisa.

Daiane Farias (mestranda), Erika Rocha (orientadora da pesquisa e professora do IFCE de Maracanaú), Rossana Barros (diretora-geral/ IFCE Maracanaú); Eudásio Alves (Paju Solar) e Joaquim Melo, criador do banco comunitário Palmas e idealizador do Palma Solar.
Sobre a usina
A usina comunitária tem capacidade para atender 50 famílias. As de maior vulnerabilidade econômica e chefiadas por mulheres têm prioridade. Um dos diferenciais do programa está no fato de a família não precisar adquirir placas de energia solar, o que demandaria um alto custo. No modelo comunitário implantado pelo PalmaSolar, as famílias fazem uma adesão.
“A família não precisa ter dinheiro inicial para comprar a placa solar; para negociar com a empresa, a Enel, que é a concessionária de energia; fazer reformas na casa, nada. Ela se associa e já começa a ter o benefício da usina rapidamente”, explica Joaquim Melo, educador popular e líder comunitário, criador do Banco Palmas, primeira experiência de banco comunitário social do Brasil e agora articulador deste novo projeto.

A redução da conta pode chegar a 60%. Na energia comunitária fotovoltaica utilizada pelo projeto PalmaSolar, cada kWh representa 1/3 do valor cobrado atualmente pela Enel. O pagamento pode ser feito com a moeda social que circula no Conjunto Palmeiras, o “Palmas”. Pelo projeto, metade desse recurso volta a circular no comércio da própria comunidade, por um sistema cashback que irá utilizar um cartão denominado de “Moeda Social Solar”.
“Com esse cartão, as famílias vão poder comprar no comércio local. Esses comerciantes do bairro podem comprar um dos outros, gerando ali um circuito econômico local positivo. E, assim, quanto mais tempo passa, mais as famílias economizam, mais compras são feitas no comércio local, e o dinheiro vai circulando na comunidade gerando trabalho, emprego e renda”, explica Joaquim Melo.
A outra parte irá compor o Fundo de Crédito de Energias Renováveis (FCER) gerido pelo banco Palmas, idealizado na perspectiva de fortalecer o empreendedorismo solidário na comunidade. Conforme explica o líder comunitário, a proposta é ofertar uma linha de crédito com juros de 0,5% para financiar empreendimentos dentro da comunidade alinhados às práticas de sustentabilidade ambiental. Nesse universo estão produtos ligados à bioeconomia, a exemplo de empreendedores que trabalham com a produção artesanal de biojoias, iniciativas ligadas à alimentação orgânica, à reciclagem, entre outras possibilidades.
Sustentabilidade e renda em comunidade
A pesquisa a ser desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Energias Renováveis do IFCE propõe um diagnóstico das 50 famílias contempladas pelo PalmaSolar em pontos como renda, saúde e acesso a serviços. Em seguida, irá monitorar o impacto na vida deles por meio de questionários e visitas domiciliares, repetindo o processo ao final de um ano, conforme explica a professora Erika Rocha, orientadora do projeto.

Beneficiários do PalmaSolar (foto: divulgação)
“O estudo tem total aderência ao Programa, uma vez que, quando a gente fala em energias renováveis, não se pode ter como foco apenas a produção, o armazenamento e a distribuição, mas também o impacto social, econômico e ambiental da geração dessa energia, e também financeiro, além de técnico. Muitas vezes, a gente acaba focando muito a técnica e a viabilidade financeira, logística, mas não pensa muito no entorno”, comenta a docente.
A professora reforça o papel social que os programas de pós-graduação devem ter, indo além da produção acadêmica formal.
Sem ter a comunidade envolvida nisso e sem ter a aderência dela fica um projeto muito vazio. Então é como se a gente unisse a academia com a comunidade, trazendo a extensão para dentro do programa
Reportagem: Saulo Rêgo - campus Maracanaú (agencia@ifce.edu.br)
Revisão de texto: Priscila Luz
Fotos: Acervo Pessoal
Fonte: Venício Soares (veniciosoares@ifce.edu.br) e Erika Rocha (erikadajusta@ifce.edu.br), professores do campus Maracanaú
- Palavras-chave:
- Agência IFCE Extensão Energia solar