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INOVAÇÃO

Professor do IFCE Quixadá recebe carta patente de argamassa produzida com material sustentável

Invenção patenteada por professor do IFCE Quixadá propõe alternativa ecológica e economicamente viável para a construção civil

Publicada por Rebeca Cavalcante em 13/10/2025 Atualizada em 13 de Outubro de 2025 às 17:02

Um novo passo rumo à sustentabilidade e à inovação tecnológica foi dado pelo professor Rayanderson Saraiva de Souza, coordenador do curso de Engenharia Civil do IFCE campus Quixadá, com a criação de uma argamassa ecológica desenvolvida a partir de resíduos industriais e agrícolas, agora patenteada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O dispositivo, resultado da dissertação de mestrado do professor, combina ciência, economia circular e compromisso ambiental para propor soluções práticas ao setor da construção civil.

A argamassa desenvolvida substitui dois dos principais insumos usados na formulação convencional: o agregado miúdo (areia) foi substituído pelo resíduo do beneficiamento da scheelita — um mineral abundante na região do Seridó, no Rio Grande do Norte — e a água de hidratação do cimento foi trocada pela manipueira, líquido residual do processamento da mandioca.

Na imagem vemos o professor no laboratório, trabalhando com equipamentos da pesquisa
Na imagem vemos o professor no laboratório, trabalhando com equipamentos da pesquisa

Essa substituição transforma dois passivos ambientais em recursos valiosos, promovendo reaproveitamento de resíduos e redução do consumo de recursos naturais finitos, como areia e água potável. Segundo o professor Rayanderson Saraiva, “a pesquisa demonstrou que é possível obter um material tecnicamente eficiente, ambientalmente responsável e de custo reduzido, aproveitando o que antes era descartado como problema”.

Desempenho técnico e sustentabilidade

Os testes laboratoriais comprovaram que a argamassa apresenta excelente desempenho mecânico, com resistência à compressão de até 17,4 MPa aos 28 dias e resistência à tração em torno de 4,9 MPa, esses resultados são comparáveis ou superiores aos de produtos convencionais.

A manipueira favorece a hidratação do cimento e a formação de estruturas mais densas, enquanto o ajuste granulométrico do resíduo de scheelita melhora a densidade da mistura, reduzindo a absorção capilar e aumentando a durabilidade.

Essas características tornam o material indicado para assentamento de blocos, reboco e revestimento de paredes internas e externas, com potencial de aplicação em obras que hoje utilizam argamassa tradicional.

Mas, o impacto da invenção se estende a outras dimensões.

No campo ambiental, o desenvolvimento propicia o destino adequado de resíduos potencialmente tóxicos, evitando a contaminação de solos e águas. No aspecto econômico, reduz custos com insumos e abre espaço para modelos de produção mais baratos e acessíveis, especialmente em regiões com abundância desses resíduos. E no plano social, a iniciativa reforça a perspectiva de uma economia circular regional, capaz de gerar renda e estimular práticas produtivas sustentáveis.

“Trabalhos como esse mostram que a pesquisa científica pode dialogar diretamente com as demandas locais, transformando desafios ambientais em oportunidades de desenvolvimento econômico e social”, destaca o pesquisador.

Durante o desenvolvimento do estudo, foi produzido um protótipo em escala reduzida, que simulou o uso da nova argamassa em uma estrutura de alvenaria. O desempenho do material foi comparado ao da argamassa convencional, apresentando excelente trabalhabilidade e durabilidade. Os resultados reforçam a viabilidade de sua adoção pelo setor construtivo, apontando para uma alternativa sustentável, tecnicamente viável e economicamente competitiva.

Pesquisa aplicada e patente

O projeto nasceu no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), sob orientação do professor Wilson Acchar e coorientação do professor Vamberto Monteiro da Silva (IFPB). A patente conta ainda com a participação da pesquisadora Janaína Anne Mota Melo, que colaborou durante a iniciação científica.