ARTE E CULTURA
IFCE planeja ações de reconhecimento de Notório Saber
Além de conceder titulações, objetivo é incluir e remunerar mestres da cultura popular
Publicada por Rebeca Cavalcante em 29/09/2025 ― Atualizada em 29 de Setembro de 2025 às 15:06
Reconhecer os saberes tradicionais como conhecimentos: com essa missão, uma Comissão Institucional do Notório Saber planeja uma série de projetos que devem tornar o Instituto Federal do Ceará (IFCE) uma referência na área. As ações foram anunciadas durante a 4ª Bienal de Artes Paulo Abel do Nascimento, realizada no último final de semana, no campus de Quixadá.
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“As ações incluem o reconhecimento, a inclusão e a remuneração dos mestres”, explica Aterlane Martins, coordenador de arte e cultura da Pró-reitoria de Extensão do instituto. Inicialmente devem ser três as bases do programa: concessão de titulações a mestres da cultura popular, inclusão de mestres em atividades do instituto, por meio de vivências em ensino, pesquisa e extensão, além da coordenação de um consórcio nacional para investigar o estado das ações sobre notório saber no país.

Conheça as ações
Essa concessão de titulações a mestres da cultura popular tradicional que não têm formação acadêmica, com seleção de contemplados por meio de edital, é a primeira da história da Rede Federal. Entre os institutos federais, o IFCE será o primeiro a reconhecer saberes, e isso tem implicações práticas para os mestres: com um diploma de ensino superior, muitas portas se abrem.
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Previsto para iniciar neste mês de outubro, o primeiro edital deve estabelecer os critérios de como os mestres poderão se inscrever para requerer o reconhecimento do saber. Segundo Aterlane, memorial escrito e imagético, vídeo e declaração de anuência estão entre os documentos necessários. O objetivo é que o edital seja lançado anualmente.
Uma comissão composta por servidores do IFCE, profissionais da área e mestres da cultura já reconhecidos será responsável por avaliar e conceder as titulações, que podem variar de graduação a doutorado: “Nas universidades, normalmente, é um programa de pós-graduação em nível de doutorado que faz as titulações, mas o IF tem um diferencial de que você entra para ser docente como graduado. Então, um curso de graduação pode titular o mestre. No primeiro semestre do ano que vem já teremos os primeiros titulados”, explica Aterlane.
"No primeiro semestre do ano que vem já teremos os primeiros titulados”
Além do edital que deve conceder a titulação, o IFCE coordena um consórcio nacional, em parceria com a Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (MinC), que busca investigar o estado das ações sobre notório saber no país, com o objetivo de orientar instituições que já atuam ou desejam atuar na área. Entre os órgão que estão em conversa para integrar o grupo estão: Ministério da Educação (MEC), Universidade de Brasília (Unb), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).

Outra ação prevista, segundo Aterlane, é a inclusão de mestres em atividades da instituição, por meio de vivências em ensino, pesquisa e extensão: “O mestre vai ser levado para a sala de aula junto com o professor ou professora e vai desenvolver uma disciplina. A gente pode ter uma experiência de extensão e projetos de pesquisa também, incluindo docentes e servidores técnico-administrativos”. Todas as atividades desenvolvidas pelos mestres preveem remuneração.
O objetivo das ações do IFCE relacionadas ao notório saber, como explica Aterlane, é promover uma mudança epistêmica: “É para além de você dar um diploma, para além de você incluir. É uma mudança de pensamento. A gente quer que esse saber tradicional seja também reconhecido como saber, como conhecimento”.
Trabalhos acontecem desde 2023
A construção das ações de notório saber do IFCE teve início em 2023, em debates com o Ministério da Cultura (MinC) e com a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), instituições com ampla atuação na área. A comissão foi oficialmente estabelecida em 2025.
Reportagem: Alissa Carvalho