Inovação
Polo de Inovação IFCE estimula desenvolvimento de tecnologia cearense há dez anos
Já foram mais de 180 projetos desenvolvidos em parceria com empresas, movimentando mais de R$230 milhões e alcançando mais de 3 mil alunos
Publicada por Tiago Braga em 14/05/2025 ― Atualizada há 6 dias
Usina de oxigênio inteligente, sistema de prevenção de falhas em equipamentos de fiscalização eletrônica, reconstrução 3D para visualização de imagens de tomografia computadorizada: esses são apenas alguns exemplos de soluções tecnológicas desenvolvidas pelo Polo de Inovação do Instituto Federal do Ceará (IFCE), em um modelo bem sucedido de parceria entre mercado e academia que completa dez anos em 2025.
O Polo de Inovação IFCE foi um dos cinco primeiros da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. O objetivo é promover o aumento da competitividade e da produtividade da economia nacional, por meio do desenvolvimento da pesquisa aplicada e da qualificação de recursos humanos para ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I).

“Se a gente for no sentido etimológico da palavra, inovação é o desenvolvimento de alguma coisa que seja nova. A pesquisa é um passo anterior; quando você tem a implementação de uma tecnologia que seja passível de entrar no mercado, a gente pode entender como inovação”, explica Sarah Mesquita, diretora do Núcleo de Inovação Tecnológica do IFCE. O setor passou a integrar a estrutura do Polo em 2021 e é responsável por gerenciar a aplicação da Política de Inovação do IFCE no fomento e na gestão da propriedade intelectual produzida na instituição ou com participação dela.
O Polo de Inovação IFCE atua em projetos de PD&I a partir de soluções tecnológicas para as necessidades do mercado, de acordo com as expertises do Instituto Federal do Ceará e de seus pesquisadores cadastrados. A empresa procura o Polo, apresenta sua demanda e o IFCE propõe uma saída para o problema.
“Eu gosto de dizer que a gente trabalha como se fosse intérprete. A gente traduz a língua do pesquisador, a língua do laboratório, a língua do mercado, a língua do jurídico, para que todas as partes possam se entender”, explica Tarique Cavalcante, diretor do Polo de Inovação IFCE.
As partes envolvidas negociam, em especial quanto a financiamento, riscos e entregas. Formalizado o acordo de parceria, o projeto é desenvolvido nos campi do IFCE, envolvendo servidores pesquisadores e estudantes das mais diversas áreas, de cursos técnicos até a pós-graduação, oportunizando a aplicação do conhecimento acadêmico na imersão da realidade do mercado de trabalho.
No geral, ao longo desses dez anos de atuação, o Polo já soma mais de R$230 milhões em ações realizadas em parcerias com empresas, envolvendo mais de 3 mil alunos. Como instituição pública e, portanto, sem fins lucrativos, o IFCE converte esses valores em custeio para o desenvolvimento das soluções tecnológicas, como bolsas para pesquisadores e estudantes ou insumo para os laboratórios utilizados pelos projetos. Já são mais de 350 propriedades intelectuais registradas ou solicitadas, sendo a instituição pública que mais registra programas de computador no Brasil.
- projetos desenvolvidos em parceria com empresas
- + de 180
- em projetos desenvolvidos em parceria com empresas
- + de R$230 milhões
- participando de projetos desenvolvidos em parceria com empresas
- + de 3 mil alunos
- propriedades intelectuais registradas ou solicitadas
- + de 350
Um desses softwares registrados é o Sistema Inteligente de Monitoramento de Faixas Automáticas, concluído ainda em 2017. Em parceria com uma empresa de mobilidade e tecnologia, a equipe criou um painel digital inteligente para fiscalizar dispositivos de fiscalização eletrônica. “A gente monitorava o status desses equipamentos e conseguia, de forma antecipada, prever quando um iria dar defeito para poder fazer a manutenção preventiva", explica o coordenador do projeto, professor Henrique Leitão. Esse modelo preditivo baseou-se nos dados históricos de tensão, corrente e temperatura dos próprios equipamentos. Além do sistema, o projeto gerou um segundo ativo de propriedade intelectual: um motor para geração de padrões para detecção de falhas em módulo de potência de faixas automotivas.
Outra solução tecnológica que rendeu ativos de propriedade intelectual foi a usina inteligente de oxigênio E-Oxigen. “Uma usina de oxigênio é um equipamento capaz de extrair oxigênio puro do ar atmosférico, essencial para hospitais, clínicas e unidades de atendimento de emergência", explica o professor Alex Ramos, coordenador do projeto desenvolvido em parceria com empresa da área médica. “Ela é inteligente porque incorpora tecnologias de ponta, como sensores inteligentes, tecnologia Internet das Coisas (IoT) e computação em nuvem, para possibilitar o monitoramento e controle remoto da produção de oxigênio via aplicativo de celular”.
Unidade destaque Embrapii
Uma das frentes de atuação do Polo de Inovação IFCE é a unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), onde é credenciado desde a sua fundação para atuar nas áreas de competência de Sistemas Embarcados e Mobilidade Digital, além de desenvolver projetos na área de Inteligência Artificial e Ciência de Dados.
Criada em 2013, a Embrapii é uma organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. As unidades dela em todo o Brasil, como o polo do IFCE, fomentam a inovação por meio de parcerias entre empresas e instituições de pesquisa científica e tecnológica, públicas e privadas. Os projetos da Unidade Embrapii IFCE sustentam-se sobre três pilares, cada um com participação de até 1/3 financiamento total do projeto: 1) o IFCE, com sua infraestrutura de laboratórios e competência tecnológica dos pesquisadores, servidores e alunos; 2) a Embrapii, que custeia financeiramente parte do projeto; 3) a empresa parceira, que também financia o projeto, e se beneficia com a tecnologia desenvolvida.

O Polo de Inovação do IFCE foi eleito como unidade destaque durante o segundo Prêmio de Reconhecimento da Embrapii para unidades e pesquisadores que alcançaram resultados de excelência em 2024. No ano anterior, o Polo de Inovação do IFCE ganhou na categoria "Projeto mais inovador com Micro e Pequena Empresa".
“Fico feliz não especificamente pelo prêmio, mas por entender que o prêmio é o reconhecimento do trabalho que vem sendo feito pelo IFCE”, aponta o diretor da unidade, Tarique Cavalcante. “Esse prêmio foi composto pela atuação do IFCE como unidade educativa, com projetos rodando em vários campi, como Fortaleza, Maranguape, Maracanaú, Aracati. É todo esse ecossistema que o IFCE consegue viabilizar”.
Pessoas por trás da tecnologia
Maryane de Castro Lima, 18 anos e estudante de Engenharia Mecânica no campus de Maracanaú do IFCE, começou sua carreira na tecnologia ainda no Ensino Médio. Na metade do curso técnico integrado em Informática do campus Maranguape do IFCE, sob orientação da professora Jessyca Bessa, iniciou focada em back-end, ou seja, com a parte mais lógica das aplicações, mas com o tempo foi expandindo seu campo de atuação.

“Comecei nesse mundo mais técnico, de fazer a lógica funcionar, mas depois fui migrando para outra área que também amo: inteligência artificial. Hoje trabalho com visão computacional (ensinar máquinas a ver imagens e entendê-las) e processamento de linguagem natural (ensinar a máquina a entender o que a gente escreve e fala)”, explica a estudante.
No currículo, Maryane já contabiliza participação em projetos variados já concluídos, desde voltados para o varejo até um aplicativo para uma empresa de psicologia, como também em andamento, envolvendo visão computacional e processamento de linguagem natural. Todos foram encabeçados pela equipe do Núcleo de Visão Computacional e Engenharia (NUVEN), grupo de pesquisa do IFCE dedicado à promoção da inovação, do qual a professora Jessyca Bessa é uma das atuais líderes e responsável pela inserção de estudantes de cursos técnicos nos times de desenvolvedores.
Jessyca notou o interesse dos estudantes do ensino técnico integrado do campus Maranguape pelos projetos desenvolvidos no NUVEN. A equipe do Núcleo resolveu apostar e incluir uma vaga de bolsa para um desenvolvedor júnior, compatível com o ensino técnico. “Os meninos do técnico rendiam muito, porque como eles são novos e gostam de novidade, eles buscam realmente se inserir, então eu vi que isso valia a pena. Isso se tornou um costume e hoje a gente costuma colocar pelo menos uma vaga de DevJr nos projetos", comenta a docente. “São alunos que vieram do nível técnico e chegam ao ensino superior com uma bagagem enorme”.

Maryane é exemplo disso. Concluiu o curso técnico no final de 2023 e continuou no Polo de Inovação como desenvolvedora de IA, conciliando com a graduação em Engenharia Mecânica, iniciada no começo de 2024. Para ela, ter iniciado cedo a carreira na tecnologia ajudou a entender os próprios objetivos. “Me mostrou que tenho uma paixão enorme por pesquisa, até mais do que pelo mercado tradicional, e me ajudou a amadurecer mais rápido em relação ao meu futuro", explica a estudante.
Além desse conhecimento, Maryane ressalta que o ambiente do grupo de pesquisa do NUVEN foi muito importante para o seu crescimento pessoal. “Antes, eu era muito nervosa para falar em público e até mesmo para expressar minha opinião. Com o tempo, convivendo com as pessoas de lá, fui ganhando mais confiança e desenvolvendo essas soft skills. Sou muito grata por tudo isso", conclui.
Reportagem: Andressa Souza - Reitoria (agencia@ifce.edu.br)
Fotos: Acervo IFCE
Fontes: Tarique Cavalcante, diretor do Polo de Inovação IFCE (tarique@polodeinovacao.ifce.edu.br); Jessyca Bessa - professora do campus Maranguape e líder do NUVEN (jessyca@nuven.ifce.edu.br); Henrique Leitão - professor do campus Maracanaú (henriqueleitao@ifce.edu.br); Alex Ramos - professor do campus Canindé (alex.ramos@ifce.edu.br)
- Palavras-chave:
- Pesquisa Agência IFCE Inovação Tecnologia