ARTIGO DE OPINIÃO
O que é um Instituto Federal?
Publicada por Andressa Costa em 11/04/2025 ― Atualizada há 1 semana, 1 dia
Em 1909, o então presidente Nilo Peçanha criou as primeiras 19 Escolas de Aprendizes Artífices com o objetivo de oferecer um ofício “voltado aos desvalidos de sorte”. Esse público-alvo era um reflexo do próprio Nilo: negro, filho de agricultores, estranho à elite da época, um homem sem títulos nem fortunas.
Esses espaços de educação voltados essencialmente para a classe trabalhadora deram origem ao que conhecemos desde 2008 como Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. As 19 Escolas originais hoje são 685 unidades vinculadas a 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, a dois Centros Federais de Educação Tecnológica, à Universidade Tecnológica Federal do Paraná, a 22 escolas técnicas ligadas às universidades federais e ao Colégio Pedro II.
Os nomes mudaram ao longo de um século, mas a ideia de Nilo Peçanha permaneceu. A Lei 11.892 estabelece que uma das finalidades da Rede é “ofertar educação profissional e tecnológica, em todos os seus níveis e modalidades, formando e qualificando cidadãos com vistas à atuação profissional nos diversos setores da economia, com ênfase no desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional”.
O Instituto Federal do Ceará é um exemplo dessa proposta de ampliação, interiorização e diversificação da educação profissional e tecnológica no Brasil. Estamos presentes em 33 municípios do Estado, uma capilaridade incomparável com a de qualquer outra instituição de ensino. Alcançamos cidades e regiões antes carentes de ensino técnico e superior público e gratuito. Para muitas populações, a chegada de um campus do IFCE representou não somente o acesso ao ensino superior, mas também o fim do êxodo até um grande centro urbano para estudar.
Enquanto as universidades concentram-se no ensino superior e na pós-graduação, os Institutos Federais oferecem uma educação verticalizada: o estudante pode ingressar em um de nossos campi no Ensino Médio, em um curso técnico integrado, e continuar sua formação com graduação, especialização, mestrado e até doutorado. Essa estrutura permite não só que o aluno trilhe uma formação contínua dentro da mesma instituição, com um ensino voltado para a prática e para a inserção no mundo do trabalho, como também estimula um contato direto com a ciência e a tecnologia desde as etapas da educação básica, favorecendo a interdisciplinaridade e a inovação.
Isso também se deve ao tripé ensino, pesquisa e extensão que norteia as instituições públicas de ensino superior no Brasil. Nos IFs, a pesquisa tem um caráter mais aplicado, buscando soluções tecnológicas para desafios locais e regionais. Projetos de inovação, parcerias com o setor produtivo e desenvolvimento de tecnologias sociais são comuns, tirando a pesquisa de um possível lugar abstrato e inatingível de ciência feita por/para eruditos e tornando-a uma ferramenta direta para o crescimento econômico e social. A extensão, por sua vez, desempenha um papel vital de nos aproximar das comunidades em que nos inserimos, levando conhecimento e promovendo o desenvolvimento sustentável por meio de cursos, eventos e projetos comunitários.
Os IFs não “só” formam profissionais, mas transformam realidades e contribuem para a redução das desigualdades locais. Nossa Rede ao mesmo tempo centenária e adolescente possui uma identidade própria, voltada para a formação técnica, tecnológica e superior. Nosso impacto ultrapassa a sala de aula, promovendo inovação, desenvolvimento e inclusão, tornando a ciência e a tecnologia acessíveis a um número cada vez maior de brasileiros, desvalidos ou não de sorte. Aliás, querido presidente Nilo Peçanha, talvez o jogo tenha virado e a melhor das fortunas seja justamente fazer parte deste grande projeto de educação pública, gratuita e de qualidade.

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