Mulheres na ciência
IFCE incentiva protagonismo feminino de servidoras e estudantes
Prêmio "Anas - Mulher & Ciência" chega à sua 3ª edição em 2025, consolidando o reconhecimento da produção científica, tecnológica, artística e cultural de mulheres que atuam na instituição
Publicada por Andressa Costa em 27/04/2025 ― Atualizada há 5 dias, 15 horas
Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas é compromisso global adotado por 193 países, incluindo o Brasil. O objetivo faz parte da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável. Nessa esteira, iniciativas de fomento e apoio à participação feminina em áreas de pesquisa e inovação têm crescido nos últimos anos. No Instituto Federal do Ceará (IFCE), por exemplo, o Prêmio Anas - Mulher & Ciência chega à sua terceira edição este ano.
Lançada em 2023, a premiação valoriza e dá visibilidade às mulheres pesquisadoras do IFCE, tanto servidoras quanto estudantes do ensino técnico, de graduação e de pós-graduação. O nome é uma homenagem póstuma às docentes Ana Cristina da Silva Morais e Anna Erika Ferreira Lima Meireles, que desenvolveram diversas iniciativas de relevância científica e de interesse social e deixaram um legado inestimável para a educação e a pesquisa no Ceará e na instituição.

Para Joélia Marques, pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do IFCE, o prêmio vem se consolidando na comunidade acadêmica e representa um "movimento de estímulo e reconhecimento à produção científica, tecnológica, artística e cultural de muitas mulheres que atuam no IFCE".
O prêmio destaca e reconhece o trabalho e a dedicação científica das nossas servidoras, mas também das nossas estudantes. E isso serve como um estímulo para que elas continuem na carreira científica e nas áreas que elas estão se formando aqui na nossa instituição.
Crescimento da participação feminina na ciência brasileira
A participação de mulheres na ciência como autoras de publicações científicas no Brasil cresceu 29% nos últimos vinte anos. Os dados são do relatório da Elsevier-Bori “Em direção à equidade de gênero na pesquisa no Brasil”, que analisou produções contidas na base de dados Scopus entre os anos de 2002 e 2022. A presença feminina aumentou, inclusive, nas produções de áreas associadas à Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM, em inglês), passando de 35%, em 2002, para 45%, em 2022.
- É o percentual de crescimento da participação de mulheres na ciência como autoras de publicações científicas no Brasil entre os anos de 2002 e 2022
- 29%
Combater a evasão de alunas nos cursos ligados à Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) no campus de Aracati do IFCE é um dos princípios norteadores do Projeto DIVAS, criado em 2015 pela professora Carina Teixeira de Oliveira. A iniciativa busca desmistificar as TICs para meninas e meninos de escolas públicas em duas frentes de atuação: pelo apadrinhamento de alunas para assistência educacional e pela promoção de cursos na área de tecnologia como Informática Básica, Lógica e Programação de Computadores, Conceitos Básicos de Eletricidade e Eletrônica; e Programação para Arduino. Essas formações são ministradas por mulheres estudantes do técnico em Informática e do bacharelado em Ciência da Computação do IFCE Aracati, contribuindo não somente para a permanência e o êxito das alunas em seus cursos, mas também para a sensação de pertencimento a eles.

“O Divas visa de fato dar essa educação formal e profissionalizar as mulheres, porque sem isso não se pode falar em empoderamento feminino”, comenta a professora Carina Teixeira, 3º lugar na categoria “Engenharias, Ciências Exatas e da Terra“ na segunda edição do Prêmio Anas - Mulher e Ciência do IFCE.
A ideia é mostrar para as meninas das escolas uma possibilidade de carreira diferente daquele estereótipo, desmistificando que é uma vocação mais masculina.
Dez anos após a sua criação, o projeto acumula parcerias importantes, como a Universidade Federal do Ceará, o Ministério Público do Trabalho e o Programa Meninas Digitais da Sociedade Brasileira de Computação. A iniciativa também é replicada em outros campi do IFCE, como Horizonte, a partir da transferência da professora Carina Teixeira para a unidade. No total, foram mais de duas mil meninas e mulheres beneficiadas em uma década de existência.
Com o avançar da carreira, participação feminina na ciência diminui
Por outro lado, dados do relatório da Elsevier-Bori mostram que, conforme a carreira avança, a tendência é de redução da participação feminina nas produções científicas. De 2018 a 2022, por exemplo, as mulheres com até cinco anos de carreira foram autoras ou coautoras em mais da metade (51%) das publicações. O percentual cai para 36% entre as pesquisadoras com mais de 21 anos de carreira.
Duplas e intensas jornadas de trabalho, principalmente para mulheres que acumulam responsabilidades domésticas ou como cuidadoras, são causas comumente apontadas para o aprofundamento dessa disparidade entre os gêneros. Por conta disso, várias instituições de ensino têm criado iniciativas para apoiar e incentivar cientistas mulheres em momentos como a maternidade. No IFCE, tanto no Prêmio Anas quanto nas seleções mais recentes para orientadores de projetos de iniciação científica e tecnológica, há uma extensão no período de avaliação dos currículos e das produções científicas para as participantes que foram mães.
Os obstáculos para conciliar maternidade e carreira podem se apresentar de diferentes formas. No caso da técnica de laboratório Louhana Rebouças, do campus de Maracanaú do IFCE, o desafio foi separar os papéis de mãe e de coorientadora do próprio filho, Thiago Moreira, licenciado em Química (foto abaixo).

“Separar o papel de coorientador e de mãe é bastante desafiador porque a forma de cobrar e as expectativas devem ser as mesmas em relação aos outros alunos do laboratório, por outro lado, tem o orgulho de ver o seu filho seguindo o mesmo caminho na profissão”, aponta Louhana. Ela foi 2º lugar na categoria "Biológicas e Saúde" na segunda edição do Prêmio Anas - Mulher & Ciência do IFCE.
Louhana realiza estágio pós-doutoral na UFC, onde pesquisa novos sistemas nanoestruturados para carreamento de fármacos anticancerígenos e antimicrobianos. É autora e coautora em 21 patentes depositadas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), com aplicações médicas, farmacêuticas e cosméticas. Uma dessas patentes refere-se à pesquisa do próprio filho: um repelente que traz em sua composição uma nanoemulsão à base do óleo essencial de cravo que suaviza o ativo sintético chamado IR3535, diminuindo eventuais alergias.
Anas - Mulheres na Ciência
Como forma de reconhecer os distintos percursos que levam as mulheres às carreiras de pesquisa, o podcast IFCE no Ar lançou a temporada temática "Anas - Mulheres na Ciência". A série de reportagens em áudio contará as histórias de vida e trajetórias de pesquisa de oito servidoras vencedoras do Prêmio Anas - Mulher & Ciência dos anos de 2023 e 2024.

Além de dar visibilidade às pesquisadoras do IFCE, um dos objetivos da temporada sobre mulheres na ciência é incentivar a participação de servidoras e estudantes na terceira edição do Prêmio, que recebe inscrições até 23 de maio. No seu lançamento, em 2023, a premiação teve 119 inscritas; em 2024, o número subiu para 129.
- Estudantes inscritas em 2023
- 55
- Servidoras inscritas em 2023
- 64
- Estudantes inscritas em 2024
- 67
- Servidoras inscritas em 2024
- 62
Primeiros episódios
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#01: Louhana e a nanotecnologia aplicada à saúde
Conheça a história de Louhana Moreira Rebouças, técnica administrativa do campus de Maracanaú e 2º lugar na categoria "Biológicas e Saúde" na segunda edição do prêmio "Anas - Mulher e Ciência".
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#02: Danielle e a consciência étnico-racial
Conheça a história da Danielle Rodrigues da Silva Matos, professora do campus Quixadá e 2º lugar na categoria "Humanidades" na segunda edição do Prêmio "Anas -Mulher e Ciência".
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#03: Carina e as Divas da Computação
Conheça a história da Carina Teixeira de Oliveira, atualmente professora do campus Horizonte e 3º lugar na categoria “Engenharias, Ciências Exatas e da Terra“ na segunda edição do Prêmio "Anas - Mulher e Ciência".
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#04: Stephanie e as práticas corporais indígenas
Conheça a história da Arliene Stephanie Menezes Pereira Pinto, professora do campus Paracuru e 1º lugar na categoria “Biológicas e Saúde“ na edição de 2024 do Prêmio "Anas: Mulher e Ciência".
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Reportagem: Andressa Souza - Reitoria (agencia@ifce.edu.br)
Fotos: Guilherme Braga, Vitor Honorio e acervo IFCE
Fontes: Joélia Marques, pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação do IFCE (joelia@ifce.edu.br); Carina Teixeira de Oliveira - professora do campus Horizonte (carina.oliveira@ifce.edu.br); e Louhana Rebouças - técnica de laboratório do campus Maracanaú (louhana.m.reboucas@ifce.edu.br)