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Empoderamento feminino

IFCE capacita mais de 2 mil mulheres em situação de vulnerabilidade social

Retomada do Programa Mulheres Mil oferta cursos de formação inicial e continuada em todo o Ceará em 2024 e 2025

Publicada por Andressa Sanches em 22/07/2025 Atualizada em 22 de Julho de 2025 às 16:26

O Instituto Federal do Ceará (IFCE) voltou a contribuir para a inclusão e a recolocação profissional de mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica por meio do Programa Mulheres Mil (PMM). De 2024 até o fim de 2025, mais de duas mil mulheres serão beneficiadas pela retomada das capacitações de curta duração em todo o estado.

Instituído nacionalmente em 2011 e relançado em 2023, o PMM busca oferecer formação profissional pública, gratuita e de qualidade especialmente para as mulheres que tiveram poucas oportunidades de escolarização e acesso ao mundo do trabalho. O público atendido é formado por mulheres a partir de 16 anos em contexto de pobreza e extrema pobreza, responsáveis pelos cuidados domésticos, vítimas de violência, campesinas, refugiadas, privadas de liberdade, agricultoras, quilombolas, indígenas, ribeirinhas, dentre outras.

Em sua maioria, os cursos são ministrados por instituições que compõem a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, como o IFCE. Ao final do ano e após a conclusão de quatro ciclos de oferta, serão 2.291 mulheres beneficiadas.

mulheres participaram do 1º ciclo em 2024 em 24 campi
720
mulheres participaram do 2º ciclo em 2024 em dez campi
300
mulheres participaram do 1º ciclo em 2025 em 23 campi
716
mulheres vão participar do 2º ciclo em 2025 em 22 campi
555

Segundo explica o administrador João Narclécio Oliveira, do Departamento de Orçamento da Pró-Reitoria de Administração e Planejamento do IFCE, o recurso federal do Programa Mulheres Mil só pode ser usado em material didático e auxílio financeiro para as alunas. Em contrapartida, o IFCE fornece fardamento, transporte, alimentação e, em caso de necessidade, visita técnica. Em 2024 foi executado um orçamento de R$1.494.400. Para 2025, o orçamento previsto é de R$1.689.920.

“As estudantes recebem auxílio financeiro para custear alimentação e transporte. O valor é de R$4,50 por hora-aula, podendo totalizar R$720 durante o curso. Além disso, elas recebem materiais de apoio como camisa, bolsa, caderno e material didático. O orçamento atende as bolsas dos profissionais que atuam no programa, a exemplo das equipes gestoras e docentes que atuam no programa, bem como a compra de materiais de consumo para aulas práticas. A execução do orçamento é centralizada na Reitoria. O valor estimado por curso/campus é de aproximadamente R$ 40.000”, detalha.

Estudantes do curso de Marisqueira, ofertado pelo campus de Paracuru do IFCE pelo Programa Mulheres Mil, durante visita técnica
Estudantes do curso de Marisqueira, ofertado pelo campus de Paracuru do IFCE pelo Programa Mulheres Mil, durante visita técnica

Qualificação profissional

Cada curso ofertado possui carga horária de 160 horas (três a quatro meses) e constam no Guia Pronatec de Cursos FIC, que estabelece as formações de acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO).

RELAÇÃO DE CURSOS OFERTADOS PELO PROGRAMA MULHERES MIL NO IFCE
Agente de Alimentação Escolar Eletricista Instaladora Predial de Baixa Tensão
Agente de Microcrédito Floricultora
Agente de segregação e coleta de resíduos sólidos Operadora de computador
Agricultora Familiar Produtora de Derivados do Leite
Agricultora Orgânica Produtora de Frutas e Hortaliças Processadas pelo Calor
Alimentadora de Linha de Produção Marisqueira
Assistente Administrativo Microempreendedora Individual (MEI)
Assistente Financeira Recepcionista
Cuidadora de Idoso Salgadeira
Design Web

De acordo com a professora Denise Nunes, coordenadora de Empreendedorismo e Incubadoras da Pró-Reitoria de Extensão do IFCE, “esse ano a gente está fazendo um levantamento, um relato de experiência com as mulheres que participaram do 1º ciclo para saber como foi o impacto do programa Mulheres Mil em suas vidas. Alguns campi já entregaram, outros ainda estão coletando e estruturando as informações, mas as equipes gestoras já relatam resultados muito bons”.

Denise conta que um grupo de mulheres de Tianguá que fizeram o curso de Agente de Alimentação Escolar constituíram uma cooperativa para comercializar mel. Em Paracuru, algumas retomaram os estudos regulares. Em Crateús, egressas conseguiram trabalho de carteira assinada como merendeiras após apresentar o certificado do Mulheres Mil. “Então temos relatos de mulheres que voltaram a estudar, que estão empreendendo e que estão no mercado de trabalho. O mais importante é notar a transformação na autoestima delas que agora se reconhecem de forma diferente. Não são simplesmente só dona de casa. [Que] ela pode, sim, tirar horas do dia dela e fazer algo por ela. E as quatro horas que ela passava na sala de aula fizeram ela enxergar isso. Então a gente entende isso como um empoderamento”.

Turma do curso Agente de Alimentação Escolar, ofertado no campus de Tianguá
Turma do curso Agente de Alimentação Escolar, ofertado no campus de Tianguá

Em Paracuru foi dada a formação de “Marisqueira”. Segundo a docente Iara Saraiva, o programa veio complementar uma série de ações que já vinham sendo desenvolvidas desde fevereiro de 2022, quando iniciou o projeto de extensão em educação socioambiental “Guerreiras das Águas”, vinculado ao Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) do campus.

Iara conta que o Mulheres Mil estimulou o protagonismo político, econômico e étnico da comunidade, contribuindo para a melhoria da autoestima deste grupo. O foco não é substituir ou ensinar técnicas ancestrais já dominadas pelas marisqueiras. O objetivo é mais profundo. “Busca promover o reconhecimento do papel dessas mulheres enquanto protagonistas de uma comunidade tradicional, cuja identidade e práticas culturais têm sido historicamente invisibilizadas”, explica. E o reconhecimento veio de forma oficial, quando foi aprovada a Lei Nº 2182/2024, de 10 de outubro de 2024, instituindo o Dia da Marisqueira em Paracuru.

Relatos de experiência

Lançamento livro Mulheres Mil - Tabuleiro do Norte
Lançamento livro Mulheres Mil - Tabuleiro do Norte

Foi lançado o livro "Minha história, minha força: relatos de vida das estudantes do programa Mulheres Mil", no campus Tabuleiro do Norte. A obra reúne 26 relatos autobiográficos de alunas do curso de Assistente Administrativo. O livro foi distribuído em formato de e-book para o público. As autoras receberam um exemplar impresso da obra durante o lançamento.

No seu relato, Rita Elisgardênia Maia conta que chegou ao curso através de um professor que informou que as inscrições estavam sendo realizadas na Prefeitura Municipal de Tabuleiro do Norte. Para ela, o curso é um espaço de acolhimento, capacitação e transformação para as mulheres estudantes.

Apesar de todas as barreiras tecnológicas, há também os desafios financeiros e sociais, agravados pela desigualdade em nossa sociedade, que é extremamente machista. Nela, os melhores postos de trabalho são destinados a homens brancos, e a oportunidade para a mulher muitas vezes se restringe a atividades de base, como faxineira, cozinheira ou atividades similares. Espero que o curso tente reduzir essas desigualdades e que, através dele, eu consiga ter uma oportunidade no mercado de trabalho com a qualificação que estou realizando no momento.

Rita Elisgardênia Maia

Xayane dos Santos, egressa do curso de Assistente Administrativo do campus de Itapipoca, lembra-se da dificuldade para conciliar as aulas noturnas da capacitação com a rotina diária. "Com muito esforço eu consegui concluir e logo após eu me senti preparada para as oportunidades que iriam surgir. Estou fazendo também uma graduação em Pedagogia. E com esse curso eu consegui um trabalho na secretaria de uma escola como Auxiliar Administrativo e hoje me sinto feliz e grata por ter aproveitado bem cada momento do curso, pois contribuiu para meu desenvolvimento profissional e pessoal", conta.

Atividade prática - curso produtora de Derivados do leite - Crateús
Atividade prática - curso produtora de Derivados do leite - Crateús

Metodologia Mulheres Mil

No documento de relançamento, o Ministério da Educação (MEC) atualizou o Guia da Metodologia de Acesso, Permanência e Êxito do Mulheres Mil, que estabelece o uso da metodologia canadense ARAP, aliada à Metodologia do Acesso, Permanência e Êxito (MAPE), elaborada a partir da socialização de conhecimentos entre os Colleges Canadenses e os Institutos Federais. A esses princípios também se agregam as ações desenvolvidas nos últimos 18 anos, desde a primeira experiência, em 2001, no Rio Grande do Norte, passando pelos Projetos-Piloto, o processo de nacionalização do Programa Mulheres Mil, em 2011, e seu ingresso no Pronatec, em 2013.

A pedagoga e atual Pró-Reitora de Extensão, Ana Cláudia Uchoa, explica que a “MAPE é uma metodologia totalmente brasileira, fruto de adaptação, construção e experiência e que já possui a cara do Brasil. É um conjunto de estratégias personalizadas que foram concebidas para garantir exatamente o acesso à permanência e o êxito das mulheres vulnerabilizadas que adentram no Programa Mulheres Mil, porque esperamos que elas concluam essa formação com êxito, garantindo autonomia e empoderamento.”

A metodologia brasileira percebeu que vincular a vulnerabilidade social somente às questões econômicas era insuficiente. Desde então, o Programa Mulheres Mil considera questões econômicas: situação de pobreza, renda e desemprego; questões educacionais: baixos índices de escolaridade; questões de saúde: dificuldade ou inexistência de acesso aos serviços públicos de saúde; questões de violência: física, psicológica, moral e patrimonial; questões de desigualdades de gênero, raça, etnia e orientação sexual; questões de moradia: infraestrutura das casas, acesso à água potável e ao saneamento básico; questões de segurança alimentar: acesso a alimentos saudáveis, entre outros.

Reportagem: Cláudia Monteiro - Reitoria (agencia@ifce.edu.br)

Fotos: Acervo Pessoal e setores de Comunicação Social dos campi de Crateús, Tabuleiro do Norte e Tianguá

Fontes: Denise Nunes (denise.nunes@ifce.edu.br) e Ana Cláudia Uchoa (ana@ifce.edu.br)

Palavras-chave:
Agência IFCE Extensão Mulheres Mil

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