Compreender as relações entre traços funcionais vegetais, diversidade de abelhas e características do solo em áreas impactadas por distúrbios antrópicos. Este é o objetivo geral do projeto “Interrelações entre traços funcionais das plantas, diversidade de abelhas e distúrbios antrópicos: uma análise ecológica na Caatinga”, contemplada pela Bolsa de Produtividade em Pesquisa, Estímulo à Interiorização e à Inovação Tecnológica da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap).

O projeto foi desenvolvido pelo professor Aelton Biasi Giroldo, do campus de Crateús do Instituto Federal do Ceará, que destaca o caráter inovador da iniciativa: “O projeto é pioneiro, uma vez que vai investigar as relações entre ecologia funcional e a diversidade de abelhas nativas e os parâmetros de solo em áreas de Caatinga que foram submetidas à broca em tempos diferentes”. O professor, que é mestre e doutor em Ecologia pela Universidade de Brasília, explica que a ideia é descobrir como as características das plantas que integram a ecologia funcional - a densidade do caule, a área foliar, a área foliar específica, espessura foliar, diversidade biológica - são afetadas pelo tempo de recuperação das áreas.

O projeto pretende ainda avaliar os impactos sobre a população de abelhas nativas. “Vamos tentar descobrir como a diversidade e abundância de abelhas variam conforme o estágio de recuperação de cada uma das áreas”, relata Aelton, acrescentando que os dados coletados darão conta ainda de informações sobre a recuperação de nutrientes, umidade e compactação do solo após a broca. “A ideia é que com essa pesquisa possamos fomentar políticas públicas para assegurar a conservação e restauração de áreas degradadas e ainda gerar um apoio à segurança alimentar no bioma Caatinga que hoje sustenta 28 milhões de brasileiros”, aponta o docente.

Metodologia

Para compreender as relações entre traços funcionais vegetais, diversidade de abelhas e características do solo em áreas impactadas, o estudo propõe coletar dados em cinco áreas de Caatinga com diferentes tempos de regeneração, utilizando armadilhas para abelhas, bem como análises laboratoriais do solo e medições de biomassa de serrapilheira, isto é, matéria orgânica acumulada sobre o solo, composta principalmente por folhas caídas, galhos finos e outros restos vegetais em diferentes estágios de decomposição. A partir das variáveis funcionais de plantas (densidade do caule, área foliar específica), diversidade e abundância de abelhas, biomassa de serrapilheira e parâmetros físico-químicos do solo (pH, granulometria e nutrientes), a pesquisa buscará compreender as respostas desses componentes às perturbações ambientais.

“Espera-se que áreas mais antigas de regeneração apresentem maior diversidade funcional e melhor qualidade do solo, refletida em maior biomassa de serrapilheira, maior conteúdo de matéria orgânica e maior estabilidade estrutural”, afirma o professor Aelton Biasi. O pesquisador prevê que áreas recentemente perturbadas devem exibir maior compactação do solo, menor diversidade de abelhas e menores valores de atributos funcionais das plantas, o que prejudica serviços como polinização e regeneração vegetal. “A integração entre variáveis do solo, plantas e polinizadores deverá evidenciar relações críticas para a resiliência e a multifuncionalidade do ecossistema”, conclui.

Aplicação

A ideia é que os resultados obtidos possam fornecer subsídios para políticas públicas e manejo sustentável, promovendo a conservação da biodiversidade, a regeneração de áreas degradadas e o bem-estar humano. Ao integrar solos, plantas e polinizadores, o projeto reforça a importância da gestão sustentável de ecossistemas semiáridos em um contexto de mudanças climáticas e pressões antrópicas crescentes.

O projeto de pesquisa está alinhado também aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas no Brasil, um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade. O estudo é transversal e dialoga com os objetivos que abordam a agricultura sustentável, aprimoramento da segurança alimentar e qualidade da nutrição, bem como combate às alterações climáticas e seus impactos, na busca da proteção, restauração e promoção do uso sustentável dos ecossistemas terrestres. Tais metas buscam, ainda, a gestão sustentável de florestas, o combate à desertificação, a interrupção e reversão da degradação dos solos e da perda de biodiversidade.

Estímulo à Interiorização e à Inovação Tecnológica

O projeto foi contemplado por Edital da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), que concede a Bolsa de Produtividade em Pesquisa, Estímulo à Interiorização e à Inovação Tecnológica a pesquisadores doutores vinculados a instituições de Ensino Superior localizadas em municípios do interior do Estado do Ceará. A ideia é estimular a fixação de pesquisadores doutores nessas regiões, por meio do incentivo ao aumento da produção científica, tecnológica e de inovação de qualidade e, assim, promover o desenvolvimento social e econômico cearense.

A concessão da bolsa é definida a partir de processo seletivo no qual são avaliados, pelas Câmaras de Assessoramento Técnico-Científica da Funcap, a qualidade e regularidade da produção científica e tecnológica do proponente, divulgada em veículos qualificados na área do projeto, bem como de sua contribuição na formação de recursos humanos, e a qualidade do projeto submetido quanto ao mérito científico, fundamentação teórica, método, originalidade da pesquisa e relevância dos resultados esperados para o desenvolvimento do Estado. Contribuem para a qualidade do projeto a adequação do orçamento aos objetivos, atividades e metas propostos, bem como qualidade de seu detalhamento e justificativa, a adequação do cronograma proposto e a viabilidade da execução do projeto na Instituição na qual o pesquisador atua.

Aelton Biasi Giroldo

Professor do IFCE campus Crateús desde 2017, com doutorado e mestrado em Ecologia pela Universidade de Brasília e graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o professor Aelto Biasi Giroldo possui formação interdisciplinar com experiência em ecologia de populações vegetais, manejo de ecossistemas tropicais e sistemas produtivos sustentáveis. O pesquisador desenvolveu pesquisas sobre manejo de produtos florestais não madeireiros no Cerrado, gerando conhecimentos aplicáveis a sistemas agroflorestais e uso sustentável da biodiversidade. Durante o doutorado, Aelton investigou os efeitos dos regimes de fogo em formas de vida subarbustivas e arbóreas do Cerrado, analisando características evolutivas associadas à sobrevivência, capacidade fotossintética e alocação de carbono, aspectos relevantes para compreensão da resiliência vegetal em sistemas naturais e de cultivo. Atualmente, coordena três linhas de pesquisa no semiárido: adaptação de cultivos a condições de estresse; ecologia funcional e serviços ecossistêmicos; e avaliação de sistemas produtivos e conservação biológica.