Plantio de baobá abre V Encontro dos Neabis
Publicada em 22/11/2018 ― Atualizada há 1 mês, 2 semanas
Uma árvore de origem africana, considerada sagrada para o candomblé, que armazena água no seu tronco e cujas folhas, frutos e sementes podem ser utilizadas na alimentação e até como remédios. Esse é o baobá, árvore que foi plantada nesta quarta-feira (21), no campus de Juazeiro do Norte, para marcar a abertura do quinto encontro dos Núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas do instituto, os Neabis.
A escolha pelo plantio está relacionada à história e aos significados que a planta carrega, como explica Valéria Carvalho, integrante do Grupo de Valorização Negra do Carir (GRUNEC), uma ONG que atua há dezessete anos na região e é parceria dos Neabis dos campi de Crato e Juazeiro do Norte: “O baobá é uma árvore que simboliza a África, é trazer a África para cá e exercer o princípio da ancestralidade”.
Valéria foi uma das condutoras do ritual do plantio da espécie, que pode alcançar até seis mil anos de idade. Faz parte desse ritual a escolha de dois guardiões, que devem proteger e cuidar da árvore. No campus de Juazeiro do Norte, os guardiões do novo baobá são os estudantes Luciano Apolinário e taynara domingos, que fazem parte do Neabi da instituição.
Para Taynara, que é aluna do técnico em Eletrotécnica, o plantio é um dos resultados da luta do grupo e marca o campus como um lugar de acolhimento. “Isso representa que pessoas iguais a mim serão acolhidas aqui e terão um espaço, assim como eu conquistei, para que possam estar aqui e conseguir estudar e, ao mesmo tempo, aprender sobre sua ancestralidade, sobre como você é”.
Legislação
Os debates sobre a temática afro-brasileira devem fazer parte do cotidiano das instituições de ensino, como determina a lei 10.639/03, que versa sobre o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana. É dessa forma que atuam os Neabis: “Tudo isso faz parte de um processo acadêmico. Eu não vejo isso como um processo completamente extracurricular, o que está sendo discutido aqui também deve ser discutido dentre de sala de aula. É uma coisa que os Neabis trazem em sua pauta”, explica a coordenadora do Neabi do campus de Juazeiro do Norte, Mariana Lima.
Para Verônica Carvalho, também integrante do GRUNEC, esse trabalho deve ser feito de forma conjunta, buscando a união de conhecimentos: “A escola é uma política pública. Se quiser considerar a questão negra, precisa buscar o negro. Ninguém fala de mim sem mim. Nesse casamento da sabedoria não sistematizada, que muitas vezes não é compreendida, com essa atividade, a gente tem a impressão de que o Instituto Federal está validando esse conhecimento e dando um passo para o cumprimento dessa legislação”.
O evento
O V Encontro dos Neabis do IFCE segue até este sábado (24), com uma programação que une o conhecimento popular ao conhecimento acadêmico em debates, mesas-redondas, rodas de conversa, apresentações culturais e oficinais em torno do tema “pertencimento, identidade e representatividade nas instituições de ensino”.
por Alissa Carvalho