Tradição ancestral do Cariri é tema de pesquisas do NEABI
Núcleo estimula pesquisa sobre patrimônio material e imaterial de povos ancestrais na região
Publicada em 28/11/2018 ― Atualizada há 2 meses, 2 semanas

A tradição ancestral pré-colonial do Cariri é destaque nas pesquisas realizadas pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI) do campus de Crato do IFCE. O grupo busca investigar o patrimônio material e imaterial dos povos ancestrais da região, também chamados de indígenas, como os Kariris e os Jucás.
Segundo a vice-coordenadora do NEABI do campus, Verioni Bastos, o principal objetivo no momento é ampliar as pesquisas sobre a temática, envolvendo também estudantes e outros servidores do campus. Na Vila Mororó, por exemplo, distrito de Santana do Cariri, município a 50 quilômetros do Crato, o trabalho é para estimular a preservação das práticas, valores e saberes, as rezas e usos dos chás. Lá, em outubro de 2018, foi realizado o I Seminário do IFCE sobre Patrimônio Imaterial Arqueológico, organizado pela pesquisadora.
Sítios arqueológicos
A Vila Mororó abriga descendentes da tribo Kariri e na comunidade há também um sítio arqueológico lito-cerâmico, um dos vários já encontrados no Ceará. Junto a outros arqueólogos, Verioní participou de visitas técnicas e analíticas a novos sítios encontrados em localidades de Santana, Assaré, Crato e Brejo Santo. "Estão sendo encontrados muitos sítios arqueológicos na região do nordeste, dentro da caatinga. O nosso interesse é pesquisar para preservação e promoção do patrimônio material dos povos ancestrais aqui da nossa região", explica Verioni.
Vale do Catimbau
Outra frente de pesquisa do Núcleo fica no Vale do Catimbau, em Pernambuco, local a 400 quilômetros do Crato. Em um trabalho conjunto com pesquisadores do Instituto de Arqueologia do Cariri (IAC), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e com alunos do curso de pós-graduação em Arqueologia Social Inclusiva (URCA/Fundação Casa Grande), a pesquisadora, que também é aluna do curso, investiga a migração da tribo Jucá do Cariri para o Vale.
A possível migração foi descoberta depois de uma visita do grupo ao local e a realização de entrevistas com descendentes da tribo Kapinawá que habitam o Vale. "É preciso ser aprofundada a pesquisa, mas há indícios de que houve essa migração", conta a pesquisadora. O Vale do Catimbau é considerado o segundo local com maiores descobertas arqueológicas indígenas do Brasil, sendo possível encontrar gravuras, pinturas rupestres e cerâmicas, entre outros.
A relevância dessas descobertas contribui para o reconhecimento do valor histórico dos povos ancestrais, como explica Verioní: "A importância da relação e da parceria com as aldeias indígenas do Vale do Catimbau com a nossa pesquisa é em virtude da busca por uma linha de movimentação e translado dos povos ancestrais e entender como se constrói, se mantém e é transmitido o patrimônio material desses povos".
Nomenclatura
Segundo Verioní, o uso da expressão povos ancestrais pré-coloniais para substituir o termo indígena busca reparar uma visão eurocêntrica, que denominou de índios os nativos encontrados no Brasil: "Quando a gente fala dos conhecimentos ancestrais, a gente busca se reconectar à nossa ancestralidade, nos reconhecendo como tal e reconhecendo essa herança que nós herdamos e que, por esse processo de estereótipos e preconceitos realizados através do adjetivo indígena, muito se distanciaram".
por Mirna Karina e Alissa Carvalho